Com a participação de John French, Alexandre Fortes e Stephanie Reist, o CBAE realizou a palestra “Avanços e desafios na expansão do ensino superior: reflexões a partir do caso da Baixada Fluminense”, no dia 22 de setembro de 2016. Na conversa, foram abordados o quadro de marginalização da Baixada Fluminense e, ao mesmo tempo, dos impactos da ampliação de instituições universitárias na criação de novas oportunidades educacionais e de profissionalização e no desenvolvimento da região.
Brasilianista, French é doutor em história do Brasil pela Universidade Yale e professor de História na Universidade Duke. Tem interesse por temas relacionados à classe trabalhadora, escravidão, legislação, política, economia e cultura popular na América Latina. É autor dos livros “O ABC dos operários: conflitos e alianças de classe em São Paulo (1900-1950)” e “Afogados em Leis: a CLT e a cultura política dos trabalhadores brasileiros” e, desde 2005, trabalha em uma biografia do ex-presidente Lula.
Diretor do Instituto Multidisciplinar de Nova Iguaçu da UFRRJ, Fortes possui doutorado em História pela UNICAMP. Sua área de pesquisa abrange a história do trabalho, história da esquerda e movimentos sociais na América Latina. Atualmente integra a Red Latinoamericana de Historia Global. Já Reist é estudante de doutorado em Estudos Latino-Americanos na Universidade Duke, onde pesquisa a ocupação urbana no Brasil e na Colômbia. Trabalhou no Projeto Raízes Locais, um projeto comunitário gerido pela Associação Terra dos Homens, em Duque de Caxias, analisando a dinâmica centro-periferia, pertencimento, cidadania e direitos sobre a terra.
Os pesquisadores apresentaram o panorama inicial do estudo sobre o tema, fruto da parceria da Universidade Duke (EUA), que French e Reist integram, com o Instituto Multidisciplinar da UFRRJ, do qual Fortes é o diretor. No projeto “The Cost of Opportunity: Higher Education and Social Mobility in the Baixada Fluminense”, foi organizada uma equipe com estudantes de graduação e pós-graduação de Duke e do IM/UFRRJ para conhecer melhor os efeitos provocados pela expansão universitária na região, inspirados na realidade do IM/UFRRJ, de Nova Iguaçu, que completa dez anos em 2016.
Os convidados destacaram a importância da concretização do espaço universitário para a inserção de novos sujeitos sociais e para uma mudança cultural na região. A Baixada Fluminense é uma localidade muito marginalizada, que sofre com o estigma de violência e da ausência de garantia um futuro para os seus moradores. Para os pesquisadores, a presença de um polo de ensino superior seria capaz de desenvolver a região e trazer esperanças para os jovens que lá residem.
De acordo com French, esses foram fatores considerados pela Duke University ao escolher o IM para ser contemplado pela iniciativa. Segundo Fortes, há dificuldade dos jovens da localidade acreditarem que é possível o ingresso na universidade, mas que essa realidade vem mudando e o IM acaba por receber muitos jovens que são os primeiros da família a ingressar no Ensino Superior.
Considerada uma instituição historicamente voltada para elite branca sulista, a Universidade Duke passa pela mesma experiência de ter alunos de “primeira geração”. Por conta disso, houve, segundo Reist, uma identificação entre os alunos do projeto vindos de Duke e da UFRRJ.
Com base nisso, French reiterou a necessidade de qualificar seus alunos ao declarar que a ambição social é combustível para rebeldia. A partir disso, eles lutariam por uma melhor qualidade de vida e pela concretização dos sonhos. Nesse contexto, French fez uma comparação com a história do ex-presidente Lula, sobre o qual o historiador escreve biografia. Segundo ele, a partir do ingresso no SENAI, o ex-operário pôde sonhar mais alto. Entrou pro sindicato, comandou mobilizações, até chegar à presidência.
Ao serem questionados pelo público presente, os pesquisadores demonstraram preocupação com a atual situação política do Brasil. Segundo eles, com as mudanças propostas pelo atual governo, o direito ao acesso ao ensino superior e a gratuidade das universidades públicas estão ameaçadas.