Debate de encerramento do curso
O debate de encerramento do curso “Desastres e Mudanças Climáticas: construindo uma agenda”, que aconteceu no dia 18 de novembro, contou com a presença das pesquisadoras Déborah Danowski, Moema Miranda e Isadora Mefano.
A geógrafa Isadora Mefano foi a primeira expositora da mesa, abordando os impactos dos desastres ambientais tanto na saúde da população quanto nas estruturas de atendimento, cujo colapso pode afetar também os profissionais de saúde. Nesse sentido, os fenômenos extremos desencadeados pelas mudanças climáticas são muito preocupantes, pois aumentam a probabilidade de doenças e mortes associadas ao aumento da temperatura e à poluição do ar, de enfermidades transmitidas por vetores, roedores, água e alimentos contaminados, e de efeitos mentais, nutricionais e infecciosos diversos na saúde, entre outros. Ela concluiu que a baixa capacidade de prevenção e resposta a desastres no Brasil e em outros países em desenvolvimento se mostra uma imensa vulnerabilidade quando consideramos a intensidade e imprevisibilidade dos eventos associados à alteração climática.
Na sequência, a filósofa Déborah Danowski tratou do problema do negacionismo climático, propondo uma ressonância com outros dois negacionismos de acontecimentos trágicos de nosso tempo: a saber, o negacionismo do Holocausto e o da situação deplorável em que se encontram os animais no Antropoceno (seja pela aniquilação a que estão submetidos devido à destruição de seus habitats e populações, seja por sua criação, confinamento e extermínio em massa pela pecuária industrial, seja pela tortura e morte a que estão submetidos nos testes industriais e científicos). Nos três casos de negacionismos, são empregados dispositivos de dessensibilização que justificam e dissimulam a crueldade dirigida a tantos não-humanos e a tantos humanos considerados sub-humanos. Para lutar contra essa aniquilação generalizada, precisamos nos aliançar às vítimas do negacionismo ecocida e do fascismo, lutando juntos por um mundo mais justo e diverso.
Por sua vez, a antropóloga Moema Miranda falou da crescente preocupação, no âmbito da Igreja Católica, com o colapso ecológico e a violação dos direitos dos povos minoritários e mais vulneráveis. Tal preocupação se reflete muito claramente na Laudato Si’, a encíclica publicada pelo Papa Francisco em 2015 que traz, entre suas mensagens principais, a ideia de que o ser humano não está dissociado da Terra: tudo está conectado. Essa abordagem, chamada no texto de ecologia integral, orientou também a realização do Sínodo da Amazônia, evento de líderes católicos no qual se discutiu a situação daquela “terra disputada”, como chamou o papa: é preciso apoiar os povos da floresta na resistência contra a destruição provocada pela avidez do grande capital. Tanto a encíclica como o Sínodo, avalia Moema, apontam para um grande interesse da Igreja Católica em promover um mundo mais justo e plural, com base no reconhecimento que as lutas por justiça ecológica e social acontecem juntas.
O material de apoio das aulas anteriores do curso, assim como a bibliografia recomendada, estão disponíveis em: https://bit.ly/2H9J8Di.