RELATÓRIO FINAL 2024
Após dois anos de pesquisas, debates e eventos, a Cátedra Aloísio Teixeira Universidade do Futuro apresentou seu Relatório Final, uma iniciativa do Programa de Cátedras do Colégio Brasileiro de Altos Estudos. O projeto, que envolveu pesquisadores de diversas áreas, promoveu uma reflexão aprofundada sobre os desafios e as inovações necessárias para adaptar o ensino superior brasileiro às rápidas transformações sociais, culturais e tecnológicas do século XXI.
O relatório consolidado destaca dois subprojetos centrais. O primeiro mapeou e analisou experiências inovadoras em instituições de ensino superior, tanto no Brasil quanto no exterior, comparando práticas educacionais e propondo melhorias para a UFRJ. Já o segundo subprojeto investigou como as mudanças no mercado de trabalho impactam os processos formativos nas universidades, com eventos que discutiram desde desigualdades educacionais até as inovações curriculares e institucionais necessárias para preparar os alunos para um mundo em constante transformação.
Entre os principais pontos do relatório estão as fragilidades do ensino superior brasileiro, como a persistência de desigualdades no acesso e as resistências institucionais a mudanças significativas. Apesar dessas dificuldades, a cátedra identificou caminhos promissores, como a necessidade de currículos mais flexíveis e interdisciplinares, a valorização de metodologias ativas e a integração de novas tecnologias educacionais, incluindo plataformas virtuais e inteligência artificial.
A pesquisa de Sônia Maria Rocha Sampaio, por exemplo, explora as tensões entre inovação e conservadorismo nas universidades brasileiras, com ênfase na estrutura curricular e na justiça epistêmica. Sampaio aponta que, apesar das oportunidades de inovação, as universidades frequentemente resistem a mudanças profundas, resultando em transformações superficiais. A chegada de estudantes com perfis diversos, especialmente após a implementação da Lei de Cotas, exige currículos que contemplem questões de diversidade racial, social e de gênero, desafiando as estruturas tradicionais. A autora sugere a adoção de um modelo educacional mais inclusivo, que valorize múltiplas formas de conhecimento e esteja alinhado às realidades dos alunos.
Complementando essa perspectiva, Rosana Heringer, do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação Superior (LEPES), apresenta uma análise sobre o acesso e a permanência de estudantes no ensino superior público brasileiro. A pesquisa evidencia como as políticas de assistência estudantil evoluíram ao longo da última década, ampliando o suporte a uma parcela maior de estudantes. Contudo, ainda há desafios a serem superados, especialmente para os cotistas que, embora apresentem desempenho semelhante ou superior ao dos não cotistas, enfrentam dificuldades específicas na escolha do curso e na integração ao ambiente universitário. A pandemia de COVID-19 intensificou esses desafios, revelando novas demandas, como a exclusão digital e questões de saúde mental, reforçando a urgência de políticas que assegurem não apenas o acesso, mas também o sucesso acadêmico.
Outra questão crítica abordada no relatório é a evasão universitária. O estudo de Melina Klitzke na UFRJ revela que os primeiros semestres, especialmente o primeiro ano, são os períodos mais suscetíveis à evasão. A pesquisa identificou que fatores como a escolha do curso e o desempenho acadêmico influenciam diretamente as taxas de permanência. Estudantes que não ingressaram em sua primeira opção de curso ou cujas escolhas foram limitadas pela nota de corte enfrentam maior risco de evasão, assim como aqueles com rendimento acadêmico abaixo da média. Klitzke enfatiza que ações preventivas focadas nas fases iniciais, como uma melhor orientação curricular e maior suporte acadêmico, são essenciais para aumentar a retenção dos alunos.
O relatório também destaca iniciativas inovadoras no ensino superior, como os Bacharelados Interdisciplinares, que integram diferentes áreas do conhecimento, oferecendo uma formação ampla antes da especialização. No entanto, essas propostas ainda enfrentam dificuldades de aceitação e integração com os cursos tradicionais, evidenciando o desafio de equilibrar inovação com as práticas estabelecidas nas universidades.
Coordenado por Maria Fernanda Elbert, Titular da Cátedra, Rodrigo Rosistolato, da Faculdade de Educação, e Ana Célia Castro, diretora do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ, o Relatório Final propõe uma visão de futuro para as universidades brasileiras, valorizando o conhecimento como um bem público e destacando o papel fundamental das instituições de ensino na construção de uma sociedade mais justa. A entrega desse relatório é vista como um passo importante para que as universidades brasileiras avancem em direção a uma educação superior mais inclusiva, inovadora e conectada às demandas contemporâneas.
Confira abaixo a página da Cátedra e o Relatório Final 2024 completo.
Aloísio Teixeira (1944-2012) foi um destacado economista e professor brasileiro, lembrado principalmente por seu papel como reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) entre 2003 e 2011. Sua trajetória acadêmica e política foi marcada por uma defesa intransigente da universidade pública, gratuita e de qualidade, sempre com foco no desenvolvimento econômico e na inclusão social. Formado e doutorado em Ciências Econômicas pela própria UFRJ, Teixeira foi uma figura de liderança tanto na academia quanto no cenário governamental, atuando de forma decisiva em debates sobre a redemocratização do país e na formulação de políticas públicas voltadas ao combate à desigualdade. Como membro do grupo de economistas desenvolvimentistas, ao lado de nomes como Maria da Conceição Tavares e Carlos Lessa, contribuiu para a elaboração de políticas durante a Assembleia Constituinte, sendo um dos redatores do capítulo sobre Previdência Social. Sua eleição para reitor da UFRJ foi um marco de unidade na comunidade acadêmica, sendo reeleito como candidato único, fruto de sua capacidade de diálogo e articulação política. Durante sua gestão, Teixeira foi um defensor fervoroso da autonomia universitária e da expansão do ensino superior público, sendo fundamental para a implementação do Reuni e o fortalecimento das políticas de inclusão social. Seu legado está intrinsecamente ligado ao compromisso com o desenvolvimento do Brasil e com uma educação que abrace as demandas sociais.
Maria Fernanda Elbert é Titular da Cátedra Aloísio Teixeira Universidade do Futuro do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ. Possui graduação em Bacharelado em Matemática pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1991), mestrado em Matemática pelo IMPA (1992) e doutorado em Matemática pelo IMPA (1998). Atua principalmente nos seguintes temas: Imersões isométricas, hipersuperfícies de curvatura média constante, curvaturas de ordem mais altas (r-média). Atualmente é Professora Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde já atuou como Coordenadora do curso de Bacharelado em Matemática, como Chefe do Departamento de Matemática, como Coordenadora da área de Matemática do Programa Institucional de Bolsas de Incentivo à Docência – PIBID e como Vice Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Matemática.
Pesquisadores responsáveis pela gênese da Cátedra Aloísio Teixeira Universidade do Futuro: Maria Fernanda Elbert; Ana Célia Castro – Diretora do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ; Barbara Calabria; Bruno Souza de Paula; Carla de Paiva Bezerra; Carlos Frederico Leão Rocha; João De Mello Neto; Josué Medeiros; Marta dos Reis Castilho; Melina Kerber Klitzke; Miriam Starosky; Rodrigo Rosistolato; Victor Giraldo.