Foto: Eneraldo Carneiro/FCC
“O Antropoceno e outras histórias do (fim do) mundo” (Alyne Costa)
A última aula do módulo III do curso “Desastres e Mudanças Climáticas: construindo uma agenda” aconteceu no dia 4 de novembro. A filósofa Alyne Costa, pesquisadora vinculado ao CBAE, começou sua exposição relembrando o que já havia sido falado, ao longo das aulas anteriores, sobre o Antropoceno, a época geológica que o planeta pode ter adentrado devido aos impactos da civilização tecno-industrial sobre seus processos ecológicos. Mas alegando que precisamos conseguir imaginar o que já nos tornamos capazes de fazer (como propunha Günther Anders a respeito da ameaça nuclear), ela recorreu a um texto de Peter Forbes para mostrar que, até 2100, é provável que haja uma quantidade de CO2 na atmosfera equivalente à que existia durante o Cretáceo (entre 145 e 65 milhões de anos atrás). Como era o mundo naquela época e o que ele se tornará diante de transformações tão bruscas e profundas?
É preciso falar da possibilidade de fim do mundo – ou, como muitos dizem, do apocalipse – para tentar impedir que ele se realize. Para evitar que o Antropoceno se converta no fim dos tempos, temos que aprender a contar outras histórias e a estabelecer outras relações para melhor viver com os seres humanos e não humanos que constroem a história da Terra.
Alyne então mostrou que, em certo sentido, o Antropoceno decreta sim alguns fins, como o fim da oposição natureza-cultura; da ideia de que somos uma humanidade independente dos seres com quem existimos (somos húmus, não Homo ou anthropos, como diz Donna Haraway); da pretensa validade universal da concepção de mundo ocidental – outros povos não são apenas culturas, mas mundos legítimos; e o fim da imagem de um mundo natural inerte revelado pela ciência. No Antropoceno, o homem não pode mais ser considerado o único agente da história; e fazer as histórias dessas outras agências penetrarem na narrativa oficial da nova época geológica é abrir caminho para outras explicações sobre como chegamos até aqui e sobre o que fazer, como propuseram os historiadores Christophe Bonneuil e Jean-Baptiste Fressoz.
Essas outras histórias podem nos fazer ver que, apesar de o Antropoceno ser o nosso tempo – não é uma crise que vai passar -, precisamos aprender a conviver com o problema, herdá-lo sem negá-lo. Mais que nutrir sonhos de salvação generalizada, talvez possamos reconhecer que há ainda muita vida em meio à devastação. Por isso, precisamos experimentar uns com os outros maneiras mais justas de conviver, criar modos mais atentos de estar no mundo, estabelecendo alianças que favoreçam restaurações ecológicas e ressurgências da vida num planeta degradado.
O material de apoio dessa aula e das anteriores, assim como a bibliografia recomendada, estão disponíveis em: https://bit.ly/2H9J8Di.