Ciclo Desastres e Mudanças Climáticas | Debate de Encerramento

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Debate de encerramento do curso

O debate de encerramento do curso “Desastres e Mudanças Climáticas: construindo uma agenda”, que aconteceu no dia 18 de novembro, contou com a presença das pesquisadoras Déborah Danowski, Moema Miranda e Isadora Mefano.

A geógrafa Isadora Mefano foi a primeira expositora da mesa, abordando os impactos dos desastres ambientais tanto na saúde da população quanto nas estruturas de atendimento, cujo colapso pode afetar também os profissionais de saúde. Nesse sentido, os fenômenos extremos desencadeados pelas mudanças climáticas são muito preocupantes, pois aumentam a probabilidade de doenças e mortes associadas ao aumento da temperatura e à poluição do ar, de enfermidades transmitidas por vetores, roedores, água e alimentos contaminados, e de efeitos mentais, nutricionais e infecciosos diversos na saúde, entre outros. Ela concluiu que a baixa capacidade de prevenção e resposta a desastres no Brasil e em outros países em desenvolvimento se mostra uma imensa vulnerabilidade quando consideramos a intensidade e imprevisibilidade dos eventos associados à alteração climática.

Na sequência, a filósofa Déborah Danowski tratou do problema do negacionismo climático, propondo uma ressonância com outros dois negacionismos de acontecimentos trágicos de nosso tempo: a saber, o negacionismo do Holocausto e o da situação deplorável em que se encontram os animais no Antropoceno (seja pela aniquilação a que estão submetidos devido à destruição de seus habitats e populações, seja por sua criação, confinamento e extermínio em massa pela pecuária industrial, seja pela tortura e morte a que estão submetidos nos testes industriais e científicos). Nos três casos de negacionismos, são empregados dispositivos de dessensibilização que justificam e dissimulam a crueldade dirigida a tantos não-humanos e a tantos humanos considerados sub-humanos. Para lutar contra essa aniquilação generalizada, precisamos nos aliançar às vítimas do negacionismo ecocida e do fascismo, lutando juntos por um mundo mais justo e diverso.

Por sua vez, a antropóloga Moema Miranda falou da crescente preocupação, no âmbito da Igreja Católica, com o colapso ecológico e a violação dos direitos dos povos minoritários e mais vulneráveis. Tal preocupação se reflete muito claramente na Laudato Si’, a encíclica publicada pelo Papa Francisco em 2015 que traz, entre suas mensagens principais, a ideia de que o ser humano não está dissociado da Terra: tudo está conectado. Essa abordagem, chamada no texto de ecologia integral, orientou também a realização do Sínodo da Amazônia, evento de líderes católicos no qual se discutiu a situação daquela “terra disputada”, como chamou o papa: é preciso apoiar os povos da floresta na resistência contra a destruição provocada pela avidez do grande capital. Tanto a encíclica como o Sínodo, avalia Moema, apontam para um grande interesse da Igreja Católica em promover um mundo mais justo e plural, com base no reconhecimento que as lutas por justiça ecológica e social acontecem juntas.

O material de apoio das aulas anteriores do curso, assim como a bibliografia recomendada, estão disponíveis em: https://bit.ly/2H9J8Di.

Brasil manchado de óleo

 

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Governo omisso e racismo ambiental: o que as manchas de óleo revelam sobre o Brasil atual  

Fórum reúne pesquisadores e ativista para debater o derramamento de óleo no litoral do país

Há mais de dois meses, o litoral brasileiro vêm sofrendo com o derramamento de petróleo cru que já atingiu 111 municípios de todos os nove estados do Nordeste e do Espírito Santo. Diante do grave desastre, o Fórum, em parceria com a COPPE/UFRJ, reuniu especialistas, ativistas e a comunidade acadêmica com objetivo de debater e pensar caminhos para reduzir os impactos do problema. O evento faz parte do curso Desastres e Mudanças Climáticas e aconteceu na sede do Fórum, no Flamengo. Entre as questões levantadas, os pesquisadores destacaram a inação do governo, a falta de articulação estratégica entre setores e a necessidade de aproximação entre universidade e sociedade. 

O vazamento de petróleo é mais um desastre ambiental que entra para a lista dos ocorridos recentemente no país. Entre os últimos estão o rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, os deslizamentos de encostas na região da serra fluminense e os incêndios na Amazônia. O óleo cru apareceu pela primeira vez em 30 de agosto, mas sua origem ainda é desconhecida. O que se sabe é que foi despejado na fronteira entre Sergipe e Alagoas, em uma área distante da costa brasileira entre 600 km e 700 km. A descoberta foi feita pelos pesquisadores do Laboratório de Métodos Computacionais e Engenharia (Lamce), vinculado à COPPE, com o uso de satélites, computação avançada e modelos matemáticos. 

Ao longo do debate, os participantes criticaram a omissão do governo diante do problema. A demora para iniciar as ações tem se tornado frequente. Autoridades têm adotado o modo emergencial em prol de práticas preventivas de monitoramento que, segundo os pesquisadores, deveriam ser consideradas. “A universidade tem profissionais e tecnologia suficientes para atuar”, assegurou Luiz Landau, professor e pesquisador da COPPE e coordenador do Lamce. A capacidade das universidades e centros de pesquisa é comprovada há anos. Segundo os professores, o problema central é de natureza política. “O que o governo fez foi uma omissão, ele tem uma atitude antiambientalista, faz afirmações absurdas e descabidas”, criticou o ex-diretor da COPPE, Luiz Pinguelli Rosa. “Há uma falta de percepção de que não há desenvolvimento econômico se a gente não ligar para o meio ambiente”, afirmou a vice-reitora da COPPE, Suzana Kahn. 

Para Tatiana Roque, coordenadora do FCC, torna-se mais difícil encontrar medidas razoáveis de prevenção e contenção de danos em um cenário político como o atual. “Estamos vivendo uma situação urgente em tempos que não são normais. Um período em que o governo é negacionista e que a gente tem as autoridades contra o discurso oficial  da ciência”, afirmou. 

Rodrigo Leão de Moura, professor do Instituto de Biologia da UFRJ, pesquisador da COPPE e coordenador da Rede Abrolhos, questionou o discurso do governo federal de que não havia mais o que fazer após o vazamento a não ser esperar: fala que, segundo ele, “comprova a postura de conveniência e falta de interesse” por parte das autoridades. O biólogo defendeu que eventos com essa proporção deveriam mobilizar todos os setores, em atuação conjunta: órgãos públicos, iniciativa privada e voluntários. “De 30 de agosto até hoje a resposta tem sido para lá de medíocre”, afirmou o pesquisador. 

Moura citou ainda a data da primeira nota publicada pelo Ibama (25 de setembro) referindo ao acidente, quase um mês depois da primeira aparição do óleo e quando mais da metade do litoral do nordeste já havia sido afetada. Mais recentemente, o óleo atingiu o Banco de Abrolhos, no sul da Bahia. Com uma das maiores biodiversidades marinhas do mundo, a reserva já sente os impactos, que reverberam também nas comunidades locais. “25 mil famílias  dependem da saúde daquele ecossistema [de Abrolhos] para sobreviver”, revelou Moura, lembrando que atividades como a pesca tornam-se inviáveis com a contaminação do mar. 

“Não é acidente, é crime. Eles sabem o que estão fazendo” 

 

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“A chegada desse óleo não é surpresa”. É o que afirma Eliete Paraguassu, pescadora quilombola da Ilha de Maré (BA) e integrante da Articulação Nacional das Pescadoras e do Movimento de Pescadores e Pescadoras. “Eles dizem: foi um acidente. Não é acidente, é crime. Eles sabem o que estão fazendo” assegurou a marisqueira, para quem a questão revela outros problemas de ordem econômica e social. A costa baiana conta com inúmeros poços de petróleo, tendo a segunda maior bacia do país em volume de barris e a produção provoca reflexos nas dinâmicas das comunidades tradicionais localizadas no litoral do estado (disputas territoriais, desastres ambientais). “A gente sabe que existe um racismo ambiental. Quem vive ali [na Ilha de Maré] são pessoas negras, índias e esses corpos não importam. A carne mais barata é a carne negra e isso se configura nessa comunidades tradicionais”. 

Além de ser fonte básica de renda, a pesca define o modo de vida e a cultura desses grupos vítimas que sofrem o impacto direto do desastre. “A gente está falando de pessoas. São toneladas de petróleo que estão assentadas nos estoques pesqueiros dessas comunidades. Elas são as guardiãs desses territórios”. Ao falar do vínculo profundo com os recursos naturais, a pescadora explicou: “É a natureza que determina a hora que a gente vai, a hora que a gente vem. Essa relação não pode se perder em nome de dinheiro e desenvolvimento”, referindo-se ao inúmeros poços de extração de petróleo instalados próximos à região. Para a quilombola, há um silenciamento das comunidades tradicionais por parte da sociedade e da mídia. “São eles [pescadores] que estão coletando todo o lixo. E não fomos nós que jogamos no mar. A gente vai continuar jogando nossos corpos para tirar esse óleo, porque é nossa fonte de renda. Se esse óleo chegar, são 15, 20 anos para o sistema se recompor”, lamentou Eliete. 

 

O que fazer? 

Além do Plano de Plano de Contingência Nacional (PNC), que, segundo os especialistas deveria estar sendo seguido, é preciso aproximar a universidade da sociedade e assim mobilizar a população. “É nosso papel tentar o máximo possível transmitir o nosso conhecimento e trazer um número maior de pessoas para perto de nós”, lembrou Suzana Kahn. É o que o Fórum tem tentado fazer, segundo Tatiana Roque: concretizar a aproximação entre academia e sociedade, em iniciativas como o próprio evento e o curso, que tem como objetivo final elaborar uma agenda de ações acerca das mudanças climáticas. 

A reinclusão dos membros das sociedades tradicionais nas ações e projetos da academia também são vistos como estratégia crucial. “Quem conhece realmente o mar é quem vive no mar”, afirmou Landau. “Enquanto acharem que comunidades tradicionais não podem contribuir nessas pesquisas, a gente vai ter dificuldade. Se a academia não estiver a serviço da natureza e das pessoas de fato, não serve”, completou. 

Eliete revelou que já há relatos de famílias passando fome e que o estado é de crise e garantiu que sem posicionamento e ação por parte dos diferentes setores da sociedade, o quadro é irreversível: “Se a gente não fizer essa luta e defender esse território, vão tomar esse lugar da gente. O Movimento de Pescadores vai continuar ocupando e denunciando, porque é isso que nos cabe. A luta pelo meio ambiente não é só nossa. Vocês precisam enquanto povo da cidade, também fazer essa luta. A gente é que fica na ponta cuidando do meio ambiente para vocês. E a sociedade não fala sobre isso”. 

 

Reportagem: Victor Terra 

Fotografia: Eneraldo Carneiro

 

Ciclo Desastres e Mudanças Climáticas | O Antropoceno e outras

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Foto: Eneraldo Carneiro/FCC

 

“O Antropoceno e outras histórias do (fim do) mundo” (Alyne Costa)

A última aula do módulo III do curso “Desastres e Mudanças Climáticas: construindo uma agenda” aconteceu no dia 4 de novembro. A filósofa Alyne Costa, pesquisadora vinculado ao CBAE, começou sua exposição relembrando o que já havia sido falado, ao longo das aulas anteriores, sobre o Antropoceno, a época geológica que o planeta pode ter adentrado devido aos impactos da civilização tecno-industrial sobre seus processos ecológicos. Mas alegando que precisamos conseguir imaginar o que já nos tornamos capazes de fazer (como propunha Günther Anders a respeito da ameaça nuclear), ela recorreu a um texto de Peter Forbes para mostrar que, até 2100, é provável que haja uma quantidade de CO2 na atmosfera equivalente à que existia durante o Cretáceo (entre 145 e 65 milhões de anos atrás). Como era o mundo naquela época e o que ele se tornará diante de transformações tão bruscas e profundas?

É preciso falar da possibilidade de fim do mundo – ou, como muitos dizem, do apocalipse – para tentar impedir que ele se realize. Para evitar que o Antropoceno se converta no fim dos tempos, temos que aprender a contar outras histórias e a estabelecer outras relações para melhor viver com os seres humanos e não humanos que constroem a história da Terra.

Alyne então mostrou que, em certo sentido, o Antropoceno decreta sim alguns fins, como o fim da oposição natureza-cultura; da ideia de que somos uma humanidade independente dos seres com quem existimos (somos húmus, não Homo ou anthropos, como diz Donna Haraway); da pretensa validade universal da concepção de mundo ocidental – outros povos não são apenas culturas, mas mundos legítimos; e o fim da imagem de um mundo natural inerte revelado pela ciência. No Antropoceno, o homem não pode mais ser considerado o único agente da história; e fazer as histórias dessas outras agências penetrarem na narrativa oficial da nova época geológica é abrir caminho para outras explicações sobre como chegamos até aqui e sobre o que fazer, como propuseram os historiadores Christophe Bonneuil e Jean-Baptiste Fressoz.

Essas outras histórias podem nos fazer ver que, apesar de o Antropoceno ser o nosso tempo – não é uma crise que vai passar -, precisamos aprender a conviver com o problema, herdá-lo sem negá-lo. Mais que nutrir sonhos de salvação generalizada, talvez possamos reconhecer que há ainda muita vida em meio à devastação. Por isso, precisamos experimentar uns com os outros maneiras mais justas de conviver, criar modos mais atentos de estar no mundo, estabelecendo alianças que favoreçam restaurações ecológicas e ressurgências da vida num planeta degradado.

O material de apoio dessa aula e das anteriores, assim como a bibliografia recomendada, estão disponíveis em: https://bit.ly/2H9J8Di.

 

 

Ciclo Desastres e Mudanças Climáticas | Como confiar na ciência na

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Foto: Eneraldo Carneiro/FCC

 “Confiar na ciência: como recuperar uma visão positiva sobre o futuro humano neste planeta?” (Tatiana Roque)

No dia 21 de outubro, a professora Tatiana Roque começou a terceira aula do módulo III do curso apresentando dados de uma pesquisa realizada em 144 países que mostra que estamos vivendo hoje uma crise de confiança na ciência. Se o percentual geral de desconfiança em relação à produção científica é de 28%, no Brasil ele chegou a 35% dos entrevistados. Além disso, ainda no país, uma em cada quatro pessoas afirmaram não se sentirem beneficiadas pelo trabalho dos cientistas. A professora afirmou, assim, que tal crise de confiança não se deve à ignorância ou falta de informação, como se poderia concluir um tanto apressadamente; ela se dá sobretudo por uma baixa percepção da contribuição da ciência para uma vida melhor, além de refletir também uma descrença generalizada na democracia e na política. Por isso, a ciência precisa pensar estratégias para reconquistar a confiança da sociedade e demonstrar que pode oferecer respostas aos problemas que enfrentamos hoje.

Tatiana demonstrou, na sequência, que a atitude das pessoas comuns diante do especialista mudou com a internet. Além disso, não se sustenta mais a imagem da ciência como prática neutra, desinteressada e universal. Nesse contexto, dúvidas a respeito de verdades científicas, como as mudanças climáticas, acabam proliferando, impulsionadas por grupos ou indivíduos adeptos do chamado negacionismo climático, o que acaba retardando a adoção de medidas para conter o aquecimento global. Para combater o negacionismo, em vez de simplesmente afirmar a autoridade da ciência, a professora sugere que os cientistas explicitem por que seus métodos são confiáveis e mostrem que a ciência é uma aliada importante na conquista de um futuro melhor.

Recorrendo a episódios da história da ciência, a professora mostrou que a legitimidade conquistada pela ciência ao longo dos últimos três séculos se deveu a seu êxito em mostrar que poderia contribuir para um mundo desejável. Para enfrentar as mudanças climáticas, esse pacto de confiança precisa ser renovado, e para isso é essencial que a ciência saiba demonstrar seu valor na construção de um futuro mais justo e inclusivo.

O material de apoio dessa aula, assim como a bibliografia recomendada pela professora, estão disponíveis em: https://bit.ly/2H9J8Di.

 

Ciclo Desastres e Mudanças Climáticas | Mudanças climáticas: onde

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Foto: Eneraldo Carneiro/FCC

 

 “Mudanças climáticas: onde estamos e onde queremos chegar” (Joana Portugal Pereira)

No dia 14 de outubro, Joana Portugal Pereira iniciou a segunda aula do módulo III do curso apresentando os dados científicos que evidenciam as mudanças antropogênicas no clima. Ela mostrou também os países e setores da economia mais poluentes, lembrando que o aquecimento global não se trata de um problema futuro: já estamos sentindo os perigosos efeitos de um planeta mais quente, como a maior incidência de eventos extremos, perda de vegetação, insegurança alimentar e doenças, entre outras consequências.

Na sequência, a professora explicou que, para evitar o agravamento dessa situação, é preciso manter o aquecimento global dentro do limite de 1,5ºC estabelecido no Acordo de Paris, o que demanda esforços de redução de emissões muito mais ousados que os estabelecidos voluntariamente pelos países signatários. Isso porque, se mantivermos a trajetória de emissões atuais, o planeta provavelmente aquecerá mais de 3ºC até 2100, situação em que estaremos sujeitos a problemas socioambientais dramáticos (sobretudo as populações mais pobres e vulneráveis).

Joana, por fim, apresentou as propostas atuais para estabilizar a temperatura global, com base nos cenários projetados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), explicando também as estratégias mais discutidas para alcançar tal objetivo. Entre elas, se destacam a expansão das energias renováveis e as tecnologias de produção de bioenergia com armazenamento e captura de carbono (mais conhecidas por sua sigla em inglês, BECCS). Além disso, outras medidas eficazes na redução das emissões de CO2 já podem ser implementadas imediatamente, como escolhas mais conscientes em termos de mobilidade e alimentação – por exemplo, não usar o carro uma vez na semana e reduzir o consumo de carne e derivados do leite.

O material de apoio dessa aula, assim como a bibliografia recomendada pela professora, estão disponíveis em: https://bit.ly/2H9J8Di.

 

Ciclo Desastres e Mudanças Climáticas | Custos socioeconômicos de

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Foto: Eneraldo Carneiro/FCC

 

“Custos socioeconômicos de desastres e mudanças climáticas” (Carlos Eduardo Frickmann Young)

Na primeira aula do módulo III do curso, realizada em 7 de outubro, Carlos Eduardo Young começou sua exposição explicando que os desastres climáticos já são uma realidade também no Brasil. Diversos estudos vêm apontando a maior incidência de eventos extremos (como chuvas fortes e secas) nos últimos anos e sua correlação com os desastres mais recentes. O professor exibiu um mapa elaborado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostrando os problemas climáticos determinantes dos desastres mais recorrentes em cada bioma brasileiro. Por exemplo, os desastres na Caatinga estão mais relacionados à seca e à estiagem, enquanto na Mata Atlântica predominam aqueles causados por chuvas fortes e inundações (como deslizamentos de terra).

Em seguida, Carlos Eduardo mostrou que os desastres são também um problema econômico. O “Relatório de Danos Materiais e Prejuízos decorrentes de Desastres Naturais no Brasil – 1995-2014”, publicado pelo Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (CEPED UFSC) em 2016, indica que naquele período foram registradas quase 23 mil ocorrências de danos materiais e prejuízos econômicos relacionados a desastres naturais no Brasil, que totalizaram quase R$ 183 bilhões. Somente os danos e prejuízos decorrentes de desastres climáticos (relacionados a secas e estiagem) somaram no período quase R$ 100 bilhões de reais.

Na sequência, o professor falou da importância das metodologias de valoração ambiental para o dimensionamento dos problemas ecológicos e a priorização das decisões para tratá-los. E terminou sua apresentação lembrando que os desastres não são tão naturais assim: muitos deles poderiam ser evitados com políticas públicas voltadas à prevenção de sua ocorrência (como obras de contenção de encostas, planos de reassentamento de populações vulneráveis e ações para a segurança energética, hídrica e alimentar, entre outras). As políticas públicas são determinantes para reduzir a probabilidade de que fenômenos naturais se convertam em desastres, e é possível fazer escolhas políticas e econômicas que conjuguem a promoção do bem-estar social e da justiça ambiental com o necessário enfrentamento das mudanças climáticas.

O material de apoio dessa aula, assim como a bibliografia recomendada pelo professor, estão disponíveis em: https://bit.ly/2H9J8Di.

 

Ciclo Desastres e Mudanças Climáticas | Mudanças Climáticas: a

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Foto: Eneraldo Carneiro/FCC

 

“Mudanças climáticas: a perspectiva da ecologia de águas interiores em um mundo em transformação” (Vera Huszar)

A terceira aula do módulo II do curso, realizada em 23 de setembro, foi ministrada por Vera Huszar, especialista em ecologia aquática, macroecologia e balanço de carbono. A professora do Museu Nacional começou sua exposição apresentando definições importantes no campo da ecologia, como as noções de população, comunidade e ecossistema, além de retomar alguns aspectos importantes da dinâmica do clima.

Em seguida, Vera mostrou de que maneira os ecossistemas aquáticos participam dos ciclos biogeoquímicos da Terra, com foco sobretudo nos processos ocorridos nas águas interiores (mares fechados, lagos e rios). Se, de um modo geral, os impactos mais significativos das mudanças climáticas nos mares e oceanos dizem respeito à perda de biodiversidade marinha, devido a processos como a acidificação dos oceanos e o branqueamento dos corais, nas águas interiores o maior perigo está no aumento da população de cianobactérias, algumas das quais produzem toxinas altamente prejudiciais à saúde humana. Tais populações têm crescido sobremaneira nos últimos anos, devido à sua impressionante capacidade de adaptação e à maior disponibilidade de nutrientes – principalmente de nitrogênio e potássio, presentes nos fertilizantes agrícolas e nos dejetos dos grandes centros urbanos, que atingem os corpos hídricos.

A especialista lembrou que a noção de “desastre” se refere a eventos que geram danos capazes de alterar o funcionamento social. Nesse sentido, dois graves desastres registrados no nordeste brasileiro, região com grande incidência de cianobactérias nos reservatórios de água, mostram o perigo da contaminação causada por cianotoxinas. O primeiro deles aconteceu na cidade de Itaparica, Bahia, em 1988, quando o consumo de água contaminada causou a morte de 86 pessoas e provocou a intoxicação de mais 200. O segundo, por sua vez, ocorreu em Caruaru, cidade do agreste pernambucano, em 1996, ocasionando a morte de 76 pessoas; a toxina produzida pelas cianobactérias foi encontrada nas amostras da água que aquelas pessoas haviam consumido. Depois dos episódios, o monitoramento das cianobactérias nos reservatórios passou a ser exigido na legislação sobre potabilidade da água. Mais recentemente, ainda, estudos apontaram que as cianotoxinas podem ter agravado os surtos de microcefalia decorrentes de infecção pelo vírus da zika.

Vera concluiu sua exposição afirmando que, para além da urgente necessidade de frear o aquecimento global, o aumento das populações de cianobactérias deve ser contido por medidas efetivas de saneamento e combate à poluição, além da restrição do uso de fertilizantes agrícolas. Ela salientou também a importância de haver mais investimentos em pesquisa e monitoramento, essenciais para a compreensão dos reais efeitos das mudanças climáticas sobre os diversos meios hídricos.

O material de apoio dessa aula, assim como a bibliografia recomendada pela professora, estão disponíveis em: https://bit.ly/2H9J8Di.

Ciclo Desastres e Mudanças Climáticas | Mineração e conflito

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Foto: Eneraldo Carneiro/ FCC
 
“Mineração e conflito ambiental: uma estória sobre dois desastres” (Rodrigo Santos)
 
A segunda aula do módulo II do curso, realizada no dia 16 de setembro, foi ministrada por Rodrigo Santos, professor do Departamento de Sociologia e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ.

Com abordagem mais concentrada no problema dos desastres que no das mudanças climáticas, Rodrigo apresentou um panorama da atividade da indústria mineradora no Brasil e no mundo, tratando dos processos de extração, comercialização e consumo sobretudo do ferro e da bauxita, minérios largamente explorados no Brasil. O professor explicou que, com o aumento exponencial da demanda por minérios pela China, nos idos de 2003, a indústria mineradora viu sua rentabilidade aumentar vertiginosamente; e mesmo com o arrefecimento na demanda causado pela crise mundial de 2008, essa atividade continua ainda hoje sendo bastante lucrativa.

Porém, a mineração gera impactos socioambientais os mais diversos e nocivos, tanto no que diz respeito aos processos de extração quanto à logística de transporte e mesmo ao uso dos minérios em usinas siderúrgicas e metalúrgicas – impactos esses que as indústrias não reportam em sua totalidade. Além disso, para manter o patamar dos altos lucros dos anos 2000, empresas como a Vale e a Samarco terminaram por negligenciar alguns aspectos fundamentais relacionados a segurança e manutenção de suas instalações, sobretudo as barragens de rejeitos; é nessa negligência que podemos encontrar as condições para ocorrência dos rompimentos das barragens em Mariana e Brumadinho, causando desastres socioambientais sem precedentes na história do Brasil.
O material de apoio dessa aula, assim como a bibliografia recomendada pelo professor, estão disponíveis em: https://bit.ly/2H9J8Di

Ciclo Desastres e Mudanças Climáticas | Processos físicos associados

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Foto: Eneraldo Carneiro/ FCC

 

“Processos físicos associados ao sistema climático terrestre” (José Ricardo de Almeida França)

Na aula do dia 9 de setembro, parte do módulo II do curso, o professor José Ricardo de Almeida França, especialista em meteorologia e climatologia,  apresentou os processos físicos que participam das dinâmicas climáticas da Terra.

Sua exposição começou com a explicação de conceitos importantes que costumam ser confundidos – como por exemplo a diferença entre tempo e clima, e entre variabilidade climática e mudança climática. Em seguida, o professor tratou da complexidade da atividade atmosférica, abordando a questão com ênfase no seu tema atual de pesquisa: a participação dos aerossóis na temperatura e na formação das nuvens.

Na sequência, José Ricardo apresentou as evidências do caráter antropogênico das mudanças climáticas do ponto de vista da física, mostrando também que os graves impactos desse problema não aparecem apenas nas projeções dos modelos climáticos: em muitas partes do Brasil e do mundo, eles já estão acontecendo. É o caso por exemplo da redução generalizada do volume de precipitação observado em todo o Brasil nas últimas décadas.

O material de apoio dessa aula, assim como a bibliografia recomendada pelo professor, estão disponíveis em: https://bit.ly/2H9J8Di

 

Ciclo Desastres e Mudanças Climáticas | Mudanças Climáticas, ameaças

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“Mudanças climáticas, ameaças naturais e riscos socioambientais: como enfrentar?” (Ana Luiza Coelho Netto)

A terceira aula do módulo I do curso, realizada dia 02 de setembro, foi ministrada por Ana Luiza Coelho Netto, professora titular do Departamento de Geografia do IGEO/UFRJ e coordenadora do GEOHECO – Laboratório de Geo-Hidroecologia e Gestão de Riscos, na mesma instituição.

Ana Luiza mostrou que as condições geográficas do estado do Rio de Janeiro o tornam suscetível a episódios de chuvas torrenciais, sobretudo na região serrana. No entanto, interferências antrópicas como o desmatamento das áreas florestais vêm causando profundas mudanças no ciclo hidrológico, concentrando as chuvas sobretudo no verão e tornando-as mais intensas.

Diante desse cenário, muitos consideram os desastres decorrentes de chuvas extremas, registrados desde o século passado, como “naturais”, como se fossem tragédias inevitáveis. Porém, ao observar o contexto em que tais desastres acontecem, vemos que fenômenos extremos tendem a se tornar calamidades quando as populações suscetíveis se veem desprovidas dos meios de se preparar para as intempéries. Nesse sentido, é verdade que os fenômenos extremos são naturais, mas os desastres são socioambientais, pois a magnitude das consequências sobre as populações afetadas é determinada pelo contexto socio-espacial em que tais grupos se inserem.

Para ilustrar tal afirmação, Ana Luiza apresentou o caso da catástrofe de Nova Friburgo, ocorrida em 2011, região onde desde então ela vem desenvolvendo, junto a outros pesquisadores e a população local, o projeto chamado “REGER-CD: Rede de Gestão de Riscos da Bacia do Córrego Dantas”. A rede, implementada em caráter piloto na bacia que dá nome ao projeto, reúne agentes públicos, privados e comunitários na busca da redução dos riscos geo-hidrológicos e na criação de uma cultura de convivência com as chuvas fortes. O trabalho é desenvolvido com foco no protagonismo e autonomia das comunidades afetadas, para que elas participem ativamente do planejamento de políticas públicas e da gestão territorial na região.

O material de apoio dessa aula, assim como a bibliografia recomendada por Ana Luiza, estão disponíveis em: https://bit.ly/2H9J8Di