6. Desigualdade Étnico-Racial

Esta temática de estudos se destina a análises sobre as condições de vida experimentadas pela população brasileira a partir de recortes de cor e étnicos/raciais. Historicamente marcado por inúmeras desigualdades, o Brasil possui uma estrutura social na qual indivíduos racializados, povos indígenas e comunidades tradicionais, como quilombolas, possuem desvantagens na garantia de direitos, mobilidade econômica, qualidade de vida e oportunidades. Nas últimas
décadas, políticas públicas foram implementadas a fim de transformar este cenário, mas a adoção de medidas em perspectiva decolonial ainda se constitui como um dos principais desafios na busca pela igualdade econômica e social nacional. As atividades previstas no escopo desta temática buscarão a mensuração das transformações sociais alcançadas até o momento, bem como apresentarão perspectivas de utilização dos dados censitários para a identificação de frentes de atuação e elaboração de políticas públicas em escalas municipal, estadual e federal. Nesse sentido, o CD2022 permitirá sistematizar um conjunto de indicadores de forma a conhecer a realidade socioeconômica da população brasileira sob a perspectiva das desigualdades raciais, nos diferentes estratos geográficos possíveis de análise no âmbito da base de dados censitária (em particular nível municipal e recortes intramunicipais) e, sempre que possível, com análises interseccionais considerando gênero, situação do domicílio, pessoas com deficiência, migrantes, entre outros. Os indicadores serão circunscritos aos temas investigados no CD2022, tais como inserção ocupacional, acesso à educação e escolaridade, aspectos demográficos(nupcialidade, componentes demográficas), mobilidade e condições de moradia.

Projetos específicos:

6.1. Os indígenas no Censo 2022: Uma reflexão sobre a política da pesquisa censitária e suas consequências

Pesquisador: Francisco José Mendes Duarte

O projeto analisa a política da pesquisa censitária de 2022 com foco na quantificação dos povos indígenas, inserindo-se no contexto dos múltiplos processos socioeconômicos e ambientais que marcam o Brasil contemporâneo e na ascensão do debate sobre etnicidade e territorialidade a partir dos anos 1980. Partindo das mobilizações de movimentos sociais que uniram ativistas, cientistas e burocratas, o estudo evidencia como a inclusão desses grupos nas estatísticas oficiais rompeu com as narrativas assimilacionistas do passado, impulsionando inovações epistemológicas, metodológicas e institucionais no IBGE, que adaptou seus instrumentos – como a ampliação da Base Territorial e a realização de consultas prévias com organizações indígenas – para captar a diversidade étnico-racial do país enquanto política nacional. Utilizando o método de process tracing para mapear os mecanismos causais, o projeto analisa a influência das articulações entre o movimento indígena e a burocracia censitária na formulação e implementação do Censo de 2022, destacando as consequências da politização da pesquisa censitária: a visibilidade dos povos indígenas, o fortalecimento das políticas públicas afirmativas e a criação de um modelo de quantificação que pode ser extrapolado para outros povos e comunidades tradicionais, como os quilombolas. Dessa forma, o estudo não só revisita a trajetória histórica e sociológica dos debates sobre identidade e territorialidade dos povos indígenas, mas também aponta que o conhecimento aprofundado da quantificação indígena pode orientar futuras políticas públicas mais efetivas e contribuir para a preservação da sociobiodiversidade brasileira, contribuindo para o avanço do diálogo entre sociedade, academia e Estado.

Palavras-chave: Censo Demográfico 2022. Povos Indígenas. Etnicidade e Territorialidade. Process Tracing. Políticas Públicas Inclusivas.

Questão norteadora: Como se deu e quais as consequências da politização da pesquisa censitária pela questão indígena?

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: