O curso “Ciência e Cultura e(m) Sociedade” em 1/2017 surgiu com o objetivo de oferecer aos alunos da pós-graduação da UFRJ, de todas as áreas do saber, uma disciplina em um novo formato, que represente um espaço de convívio, reflexão e debate sobre grande temas nacionais e universais. A cada aula foram apresentadas diferentes visões e perspectivas sobre cada um dos temas elencados de modo a fomentar nos alunos um pensamento reflexivo. As temáticas escolhidas para serem abordadas nas 15 aulas refletiram temas estruturantes da ciência, da cultura, da sociedade de forma geral e que precisavam ser refletidos e debatidos pelos alunos de pós-graduação formados na UFRJ.
Para garantir essa pluralidade, foram convidados diferentes palestrantes que tiveram como desafio expor suas ideias de forma que alunos das mais diversas áreas pudessem acompanhar os debates. O aprendizado se tornou ainda mais potencializado por conta da proposta de atuar derrubando barreiras do conhecimento.
A disciplina foi organizada em três grande módulos:
1. O início, as origens;
2. Promessas e Limites da Ciência e da Cultura: Onde estamos?
3. Para onde vamos? O futuro incluindo a vida depois da Pós-Graduação.
A disciplina foi oferecida pelo Colégio Brasileiro de Altos Estudos como parte do programa Ciência, Cultura e Sociedade e foi uma iniciativa conjunta de diversos professores da UFRJ. O núcleo coordenador tinha Débora Foguel (Instituto de Bioquímica Médica) como coordenadora geral e era formado também por Beatriz Heredia (IFCS), Carlos Vainer (FCC, IPPUR), Cristina Motta (IBCCF), Edson Watanabe (COPPE), Frederico Barros (EM), José Sérgio Leite Lopes (CBAE, PPGAS/MN), Leila Rodrigues da Silva (Pró Reitora de Pós-Graduação, IH), Pedro Abramo (IPPUR) e Samuel Araújo (EM).
No mês de dezembro, o Colégio Brasileiro de Altos Estudos, em parceria com a ENSP/Fiocruz e o IESP/UERJ, realizou uma série de atividades sobre as contribuições do sociólogo francês Pierre Bourdieu. “Colóquio Bourdieu” acontece entre os dias 05 e 09 do mês nas instituições realizadoras e no Maison de France, por apoio do Consulado da França no Brasil. Com objetivo de resgatar as contribuições do autor para a sociologia e os debates suscitados pela sua obra, o ciclo reúne sete eventos, entre mesas redondas e conferências.
No dia 07, o CBAE recebeu o vice-diretor do Centro Europeu de Sociologia e Ciência Política, Julien Duval, para a palestra “O campo jornalístico na Europa”. Duval possui dois livros, feitos em parceria com Philippe Coulangeon, sobre Bourdieu: “The Routledge Companion to Bourdieu’s ‘Distinction’” e “Trente ans après La Distinction”. Além disso, leciona no Instituto de Estudos Políticos/EHESS e pesquisa jornalismo econômico e cinema. Na atividade, relacionou a obra de Bourdieu e a prática jornalística.
Sobre Bourdieu
Bourdieu é um dos autores mais aclamados nos campos da antropologia e da sociologia, embora seus estudos contribuam para diversas áreas do conhecimento. Sua abordagem foca no estudo da dominação e como a estrutura proveniente dela afeta a sociedade. O autor também se destaca por seus estudos no campo da educação, que influenciam profissionais até hoje. Inicialmente, explicou como o processo de dominação era perpetuada em escolas, por meio de reprodução cultural e pelas diferentes “estratégias” escolhidas por grupos sociais distintos – o que legitima desigualdades sociais. Esse processo se repete na mídia, visto que o jornalismo se constitui um dos maiores produtores de capital simbólico.
Organização
Os organizadores do ciclo foram Cláudio Cordovil Oliveira (ENSP/Fiocruz), Adalberto Moreira Cardoso, (IESP/UERJ), Carlos Otávio Fiuza Moreira (ENSP/Fiocruz), José Maurício Domingues (IESP/UERJ), José Sergio Leite Lopes (CBAE/UFRJ), Julien Roque, assessor de cooperação científica do Consulado Geral da França no Rio de Janeiro e Leonardo Castro (ENSP/Fiocruz).
A cultura brasileira, sob diversas perspectivas, foi tema do segundo debate do ciclo “Diálogos Universitários: Ciência, cultura e universidade”. Realizada no dia 1º de dezembro de 2016, “A universidade e os desafios da cultura brasileira” teve a participação da doutora em Comunicação Liv Sovik e do etnomusicólogo Samuel Araújo. O diretor do CBAE, José Sergio Leite Lopes foi o mediador do encontro.
No ano de 2016, o campo da cultura passou por grande instabilidade no seu aspecto institucional. Como solução para instabilidades econômicas, o Ministério da Cultura, criado em 1985 com a redemocratização, passou por um processo de extinção capitaneado por Michel Temer, quando assumiu a presidência após o afastamento de Dilma Rousseff. Somente após uma grande pressão da classe artística e de movimentos sociais, houve a manutenção a instituição. A ação governamental regressiva demonstra a necessidade de discussão sobre a questão.
Além do contexto conjuntural, a relevância da discussão se referia sobretudo aos desafios colocados para a universidade quanto à importância da preservação e do incentivo às culturas populares ameaçadas; à entrada mais massiva de estudantes cujas famílias nunca tiveram acesso ao ensino superior; ao respeito às identidades de classe, étnicas e de gênero aí envolvidas; à necessidade de uma comunicação com a sociedade que rompa as barreiras da mídia dominante para a expressão da riqueza desta diversidade cultural. Para isso foram convidados Liv Sovik, professora da Escola de Comunicação da UFRJ e especialista em Estudos Culturais, e Samuel Araújo, doutor em musicologia e coordenador do Laboratório de Etnomusicologia da UFRJ.
Realizador de um projeto de que leva a etnomusicologia à moradores da Maré, Araújo defendeu no debate que é importante o abandono de um visão restrita de cultura, evitando estereótipos de grupos sociais. Outra perspectiva muito enfatizada pelo pesquisador é de que o grande problema na cultura brasileira é a relação com o setor privado. Para ele, a monetização é extremamente prejudicial, porque acaba restringindo as trocas culturais.
Formada em Língua Inglesa e Literatura pela Universidade Yale, Sovik seguiu a conversa ressaltando a importância de uma universidade mais aberta para a pluralidade dos novos sujeitos que passaram a integrá-la. Segundo ela, o espaço acadêmico é excludente e intimidador ao se colocar em uma “torre de marfim”. Defendeu também que se buscasse um ambiente de maior diálogo e colaboração. Nesse sentido, destacou a importância do pensamento ativista e afirmou que busca sempre “ser uma intelectual militante”.
Após as considerações dos convidados, José Sergio Leite Lopes, diretor do CBAE, foi responsável por provocar o debate. Dentre as questões levantadas, esteve a conformação do campo da cultura como um meio de embate político e a elitização das discussões sobre o tema. “Muitas pessoas nem sabiam que existia um Ministério da Cultura antes da extinção dele ou, até mesmo, antes das denúncias feitas pelo ex-ministro, Marcelo Calero”, finalizou Samuel Araújo.
Os desafios para a universidade pública e para a ciência brasileira no contexto atual, com um controle de gastos sendo imposto pelo governo, foram tema de mesa redonda no Colégio Brasileiro de Altos Estudos. “A universidade e os desafios da ciência brasileira” inaugurou o ciclo “Diálogos universitários: Ciência, cultura e universidade”, que pretendia reunir pesquisadores de diversas áreas para debater sobre o futuro do Brasil.
Para essa primeira atividade, realizada no dia 3 de novembro de 2016, foram convidados o doutor em Ciências Biomédicas, Julio Scharfstein, o físico e diretor da Academia Brasileira de Ciências, Luis Davidovitch, a doutora em Ciências Biológicas, Renata Meirelles, e o antropólogo e renomado pesquisador Otávio Velho.
Eles discutiram como o não reconhecimento da educação como investimento interfere no campo, gerando uma precarização. Logo em uma das primeiras falas, Davidovitch lembrou ainda o aspecto “jovial” do ramo da ciência e tecnologia no país.
Com a participação de John French, Alexandre Fortes e Stephanie Reist, o CBAE realizou a palestra “Avanços e desafios na expansão do ensino superior: reflexões a partir do caso da Baixada Fluminense”, no dia 22 de setembro de 2016. Na conversa, foram abordados o quadro de marginalização da Baixada Fluminense e, ao mesmo tempo, dos impactos da ampliação de instituições universitárias na criação de novas oportunidades educacionais e de profissionalização e no desenvolvimento da região.
Brasilianista, French é doutor em história do Brasil pela Universidade Yale e professor de História na Universidade Duke. Tem interesse por temas relacionados à classe trabalhadora, escravidão, legislação, política, economia e cultura popular na América Latina. É autor dos livros “O ABC dos operários: conflitos e alianças de classe em São Paulo (1900-1950)” e “Afogados em Leis: a CLT e a cultura política dos trabalhadores brasileiros” e, desde 2005, trabalha em uma biografia do ex-presidente Lula.
Diretor do Instituto Multidisciplinar de Nova Iguaçu da UFRRJ, Fortes possui doutorado em História pela UNICAMP. Sua área de pesquisa abrange a história do trabalho, história da esquerda e movimentos sociais na América Latina. Atualmente integra a Red Latinoamericana de Historia Global. Já Reist é estudante de doutorado em Estudos Latino-Americanos na Universidade Duke, onde pesquisa a ocupação urbana no Brasil e na Colômbia. Trabalhou no Projeto Raízes Locais, um projeto comunitário gerido pela Associação Terra dos Homens, em Duque de Caxias, analisando a dinâmica centro-periferia, pertencimento, cidadania e direitos sobre a terra.
Os pesquisadores apresentaram o panorama inicial do estudo sobre o tema, fruto da parceria da Universidade Duke (EUA), que French e Reist integram, com o Instituto Multidisciplinar da UFRRJ, do qual Fortes é o diretor. No projeto “The Cost of Opportunity: Higher Education and Social Mobility in the Baixada Fluminense”, foi organizada uma equipe com estudantes de graduação e pós-graduação de Duke e do IM/UFRRJ para conhecer melhor os efeitos provocados pela expansão universitária na região, inspirados na realidade do IM/UFRRJ, de Nova Iguaçu, que completa dez anos em 2016.
Os convidados destacaram a importância da concretização do espaço universitário para a inserção de novos sujeitos sociais e para uma mudança cultural na região. A Baixada Fluminense é uma localidade muito marginalizada, que sofre com o estigma de violência e da ausência de garantia um futuro para os seus moradores. Para os pesquisadores, a presença de um polo de ensino superior seria capaz de desenvolver a região e trazer esperanças para os jovens que lá residem.
De acordo com French, esses foram fatores considerados pela Duke University ao escolher o IM para ser contemplado pela iniciativa. Segundo Fortes, há dificuldade dos jovens da localidade acreditarem que é possível o ingresso na universidade, mas que essa realidade vem mudando e o IM acaba por receber muitos jovens que são os primeiros da família a ingressar no Ensino Superior.
Considerada uma instituição historicamente voltada para elite branca sulista, a Universidade Duke passa pela mesma experiência de ter alunos de “primeira geração”. Por conta disso, houve, segundo Reist, uma identificação entre os alunos do projeto vindos de Duke e da UFRRJ.
Com base nisso, French reiterou a necessidade de qualificar seus alunos ao declarar que a ambição social é combustível para rebeldia. A partir disso, eles lutariam por uma melhor qualidade de vida e pela concretização dos sonhos. Nesse contexto, French fez uma comparação com a história do ex-presidente Lula, sobre o qual o historiador escreve biografia. Segundo ele, a partir do ingresso no SENAI, o ex-operário pôde sonhar mais alto. Entrou pro sindicato, comandou mobilizações, até chegar à presidência.
Ao serem questionados pelo público presente, os pesquisadores demonstraram preocupação com a atual situação política do Brasil. Segundo eles, com as mudanças propostas pelo atual governo, o direito ao acesso ao ensino superior e a gratuidade das universidades públicas estão ameaçadas.
Tendo por referência a experiência dos institutos de estudos avançados de universidades estadunidenses e europeias, as universidades brasileiras, desde a USP em 1986, têm procurado encontrar seu próprio caminho na constituição destes centros produtores de ideias de vanguarda e de caráter interdisciplinar.
Com esta função, o Colégio Brasileiro de Altos Estudos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, procurará articular e dar guarida a especialistas da UFRJ e de outras universidades em grupos de pesquisa em torno de polos temáticos transversais. Além disso, estes polos terão em comum um caráter de centro de documentação e produção de acervos, utilizando-se para isso da tecnologia digital disponibilizada para o conjunto das atividades do CBAE, bem como de recursos do Fórum de Ciência e Cultura, centro universitário ao qual pertence.
Nessa categoria é possível encontrar registros multimídia dos eventos realizados pelo CBAE desde 2012. São vídeos, áudios, fotografias e textos disponíveis para consulta online, sobre temas de diferentes campos do conhecimento. Aqui, promovem-se congressos, colóquios, exposições e programas que atingem a premissa de fomentar o intercâmbio científico, cultural e artístico.
Utilizando tecnologia digital, nos aproximamos do caráter de centro de documentação e produção de acervo planejado pela instituição. A disseminação dos saberes, acreditamos, proporciona reflexão propositiva sobre o futuro ao estabelecer um encontro entre as sociedades civil e científica.
O CBAE conta com apoio de diversos institutos para a realização de seus eventos. Esses podem ser encontrados na página .