“Estratégias de reconversão do campesinato e das elites agrárias brasileiras; uma homenagem a Afrânio Raul Garcia Jr”

16 OUT – QUI – 14H/17H

Cátedra Memória, Trabalho, Movimentos, Direitos Humanos

Sessão de apresentação da Cátedra “Memória, Trabalho, Movimentos, Direitos Humanos” – patrono Afrânio Raul Garcia Jr

Apresentação sumária dos objetivos da Cátedra e do trabalho do patrono  Afrânio Raul Garcia Jr

Coordenador e mediação:

José Sergio Leite Lopes

Convidados:

Ana Célia Castro, José Sergio Leite Lopes, Sergio Pereira Leite (CPDA), Mario Grynszpan (UFF) , John Comerford (MN) e Patrícia Ramiro (UFPB, pós-doc no MN).

Presencial:

Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ, Av. Rui Barbosa, 762 – Flamengo, Rio de Janeiro.

Transmissão:

Canal do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ no YouTube

#02. Economia Política de Dados: desafios de conceituação e mensuração

18 SET – QUI – 18H/20H

Cátedra Álvaro Vieira Pinto

APRESENTAÇÃO

O curso Economia Política de Dados e Soberania Digital discute o papel estratégico dos dados digitais na economia e na geopolítica contemporânea. Em 13 aulas-palestras *híbridas, de 11 de setembro a 11 de dezembro de 2025, às quintas-feiras, especialistas analisam fundamentos conceituais, dilemas regulatórios enfrentados por diferentes países e possíveis caminhos para o Brasil. A iniciativa é organizada pelo Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ, por meio da Cátedra Álvaro Vieira Pinto, com apoio da RedeSist, ComMarx, PPGCOM/ECO-UFRJ e PPGCI/IBICT.

Coordenação: Prof. Dr. Marcos Dantas (ECO-UFRJ) e Helena Lastres (RedeSist-UFRJ) 

*Formato híbrido, com ênfase na riqueza da participação presencial e a alternativa online igualmente garantida. Pós-graduandos e ouvintes são bem-vindos, podendo acompanhar integralmente ou em aulas-palestras específicas. Para certificação, é necessária inscrição e presença mínima de 75%, via Zoom; sem inscrição, o acompanhamento pode ser feito pelo YouTube.

Sobre o curso

A centralidade dos dados digitais na economia contemporânea transformou as grandes plataformas em atores de peso geopolítico, capazes de influenciar políticas nacionais e internacionais. Essa nova forma de poder, baseada na coleta e uso massivo de informações, coloca em questão a soberania de países como o Brasil, que enfrentam desafios para regular corporações globais e lidar com problemas associados, como desinformação, discursos de ódio e vigilância.

O curso propõe uma reflexão crítica sobre esse cenário. Em 13 aulas-palestras, serão discutidos os fundamentos conceituais da economia política de dados, os dilemas regulatórios e políticos enfrentados em diferentes regiões do mundo e, por fim, os caminhos possíveis para o Brasil. A programação reúne pesquisadores que, nos últimos anos, se dedicaram ao tema e cujos estudos resultaram em notas técnicas e no livro Economia Política de Dados e Soberania Digital: Conceitos, Desafios e Experiências no mundo, publicado pela editora Contracorrente em parceria com a RedeSist e o Centro Internacional Celso Furtado.

Ao abrir esse debate ao público, o curso reafirma a importância de pensar o desenvolvimento científico e tecnológico a partir de perspectivas críticas e brasileiras, inspiradas na tradição de Álvaro Vieira Pinto.


PROGRAMAÇÃO

MÓDULO 1: Definições e importância da Economia Política de Dados

11 SET- Aula inaugural – Soberania Digital em Disputa – Renata Mielli

Professora: Dra. Renata Mielli (Coordenadora CGI.Br). Moderação Prof. Marcos Dantas.

A exposição tratará do papel central que as tecnologias digitais adquiriram no cenário econômico e geopolítico atual. Apresentará as relações entre a questão da soberania nacional e as demais possibilidades de soberania, demonstrando as disputas pelo sentido e significado da soberania digital. Indicará um conjunto de medidas de emergência para garantir a soberania digital do Estado e da sociedade.

Renata Mielli, Jornalista. É coordenadora do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e Assessora Especial da Ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação. Presidente do Conselho de Administração do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Doutora em Ciências da Comunicação (ECA-USP).

18 SET- Aula 2. Economia Política de Dados: desafios de conceituação e mensuração – Helena Lastres

Professora: Helena Lastres. Moderação: Caíque Apolônio.

Apontar a falta de definições e sistemas de medição consistentes e seguros sobre a economia de dados e a influência negativa dessa ausência na compreensão do fenômeno e na implementação de políticas. Daí a relevância de buscar abordagens contextualizadas e condizentes com a compreensão e análise da Economia Política de Dados e Digital, capazes de identificar os fundamentos essenciais para orientar políticas efetivas e apropriadas para a transformação digital inclusiva, soberana e sustentável. 

Helena Maria Martins Lastres é Economista pela FEA-UFRJ, Mestre em Economia da Tecnologia pela COPPE/UFRJ, PhD em Desenvolvimento Industrial e Política de CT&I, SPRU, Sussex University, (Inglaterra) e pós-doutora em Inovação e Sistemas Produtivos Locais pela Université Pierre Mendès-France, Grenoble (França). É pesquisadora associada ao Programa de Pós-graduação do IE/UFRJ, onde ajudou a criar e atualmente coordena a Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais. É Pesquisadora Titular (aposentada) do Ministério da Ciência e Tecnologia. É membro do Conselho Deliberativo do Centro Internacional Celso Furtado (Cicef). Integra o Conselho Consultivo para a Transformação Digital (CCTD) do Comitê Interministerial para a Transformação Digital (CITDigital).


25 SET- Aula 3. As comunicações e O Capital – Marcos Dantas

Professor: Marcos Dantas. Moderação: a definir

Examinar aspectos da economia de dados à luz de conceitos e elaborações encontrados n’O Capital de Karl Marx. O ciclo de rotação do capital e as plataformas sociodigitais. Dados, capital financeiro, juros.

Marcos Dantas é Professor Titular (aposentado) da Escola de Comunicação da UFRJ. Mestre em Ciência da Informação pela ECO-IBICT/UFRJ e Doutor em Engenharia de Produção pela COPPE-UFRJ, é professor do Programa de Pós Graduação em Comunicação e Cultura da ECO-UFRJ e do Programa de Pós Graduação em Ciência da Informação do IBICT. Integra o Conselho de Administração da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Foi membro do Conselho de Administração do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.Br) e do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.Br).

02 OUT – Aula 4. Grandes corporações digitais e financeirização – José Cassiolato

Professor: José Cassiolato. Moderação: Dra. Nahema Falleiros

Propor uma reflexão sobre a importância de alcançar a soberania digital no Brasil. Focalizam-se as articulações da digitalização com a financeirização e as formas resultantes de aprisionamento das inovações digitais em trajetórias tecnológicas, não apenas de baixa eficácia econômica, mas principalmente produtoras de significativos efeitos negativos em termos sociais, políticos e ambientais. Argumenta-se, que,  longe de constituir-se em um novo paradigma, os desenvolvimentos associados à digitalização representam apenas uma intensificação do paradigma das TICs e que os discursos sobre as tecnologias digitais foram historicamente construídos em torno de mitos com grandes referências a mundos e possibilidades utópicas. Daí, entre outras conclusões, percebe-se crescente preocupação na sociedade sobre a necessidade de maior controle público das atividades digitais. A busca de soberania digital por parte dos diferentes países tem crescentemente feito parte da agenda de políticas públicas.

José Cassiolato é Economista pela Universidade de São Paulo (USP), mestre e doutor em Economia pela Universidade de Sussex (Inglaterra), com Pós-doutorado na Universidade Pierre Mendes-França (França). É professor de Economia da Inovação no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ). É Coordenador da Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist, IE/UFRJ). É Membro do Conselho Superior da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). É associado fundador do Centro Internacional Celso Furtado (Cicef). Ocupa o sexto lugar em publicações em economia na América Latina do Latin America Scientist and University Rankings 2024.


MÓDULO 2: Experiências de países selecionados

09 OUT – Aula 5. Tendências e desafios da economia de dados nos Estados Unidos e Canadá – Jorge Britto

Professor: Jorge Britto. Moderação: a definir

Apresentar e discutir conceitos relacionados à caraterização da Economia de Dados, procedimentos para medir sua participação no conjunto da economia e algumas implicações normativas do conceito em termos de políticas públicas, a partir da apresentação das experiências dos Estados Unidos e do Canadá.

Jorge Nogueira de Paiva Brito é Economista pela UFRJ. Tem Mestrado e Doutorado em Economia da Indústria e da Tecnologia, também pela UFRJ, com doutorado-sanduíche no SPRU da Universidade de Sussex (Inglaterra). É professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador colaborador da RedeSist e da UFRJ. Tem larga experiência na área de Economia da Tecnologia e da Inovação, com ênfase em Organização e Política Industrial e Tecnológica atuando principalmente nos seguintes temas: arranjos e sistemas produtivos, cooperação interindustrial, redes de firmas e sistemas setoriais e regionais de inovação. 

16 OUT – Aula 6. Economia de dados: planejamento e regulação na União Européia (15h/17h) – Maria Lúcia Falcón

Professor: Maria Lúcia Falcón. Moderação: Bruna Távora

Principais estratégias, políticas e instrumentos para o planejamento, o investimento e a regulação da transição digital da economia na União Européia: planos Next Generation, fundos RRF, Digital Compass e Digital Decade. Soberania, infraestrutura digital e financiamento. Legislação de proteção de dados, regulação de mercados de dados e IA.

Maria Lúcia de Oliveira Falcón é Agrônoma pela Universidade Federal da Bahia. Mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia. Doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília. Fez Especialização em Gestão em Qualidade e Produtividade pelo MCT/Missão no Japão e em Blockchain e Fintech pelo IEBS/Espanha. É Pesquisadora Visitante na Universidade de Santiago de Compostela, Faculdade de Ciências Econômicas, Espanha. Professora Associada (aposentada) pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Atualmente desenvolve Pós-Doutorado na ENSP/Fiocruz na área de Complexo Econômico-Industrial da Saúde/Economia de Dados. É pesquisadora da RedeSist do Instituto de Economia da UFRJ e Professora Colaboradora no Mestrado Profissional de Economia (Propec) da UFS com as disciplinas Macroeconomia e Transformação Digital do Sistema Financeiro. 

23 OUT – Aula 7. A Economia Política dos Dados na perspectiva dos (B)RICS – Ana Arroio

Professora: Ana Arroio. Moderação: Dra. Monique Figueira

Os sistemas produtivos e inovativos digitais da Rússia, Índia, China e África do Sul – RICS. O impacto das questões geopolíticos e  geoeconômicas, e o papel do Estado no desenho de políticas públicas para prosperar na economia digital. As lições de iniciativas bem-sucedidas, localmente apropriadas e que endogenizam partes importantes do sistema produtivo digital. Reflexão e recomendações para uma agenda de políticas no Brasil.

Ana Arroio é Jornalista pela Carleton University (Canadá), Mestre em Relações Internacionais pela PUC-RJ (1989) e Ph.D. em Desenvolvimento Industrial e Política de CT&I, SPRU, Sussex University (Inglaterra). Tem Pós-doutorado em Relações Internacionais pela Oxford University e Princeton University – Woodrow Wilson School of International and Public Affairs (Inglaterra e Estados-Unidos). É pesquisadora associada da RedeSist, do Instituto de Economia da UFRJ.

30 OUT – Aula 8. Economia de dados na África, Ásia e Oceania – Cristina Lemos

Professora: Cristina Lemos. Moderação: a definir

Examinar as experiências de políticas relacionadas à chamada transformação digital e à acelerada expansão da economia de dados em países que não estão na liderança no mundo. A análise é centrada em políticas  governamentais para oportunidades de inserção soberana na era digital em sete países selecionados: Austrália, Coreia do Sul, Indonésia, Japão, Vietnam, Etiópia e Quênia. São observados conceitos, marcos regulatórios, esforços de mensuração e estratégias de desenvolvimento, especialmente relacionadas à constituição de infraestrutura digital, sistemas de produção e inovação e governos digitais, visando contribuições para a formulação de políticas digitais e de dados soberanas e inclusivas no Brasil.

Cristina Ribeiro Lemos é Economista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre e Doutora em Engenharia de Produção pela Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe/UFRJ). É pesquisadora associada da Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos (RedeSist/IE/UFRJ), desde sua criação em 1997. É pesquisadora aposentada do Instituto Nacional de Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (1986/2016).

06 NOV- Aula 9. China: o big data a serviço de políticas pública – Isis Paris Maia

Professora: Isis Paris Maia. Moderação: Dra. Ana Maria Ribeiro 

Será apresentado e discutido como a China estruturou seu ecossistema de internet nacional, abrangendo desde a infraestrutura física até os marcos regulatórios que o sustentam, e como esse ecossistema digital viabiliza o que a literatura denomina governança 4.0 e quais são seus impactos sobre as políticas sociais do país. Para ilustrar, será analisado o caso do cadastro unificado de famílias vulneráveis.

Isis Paris Maia – Historiadora (2020), Mestre (2023) e Doutoranda em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É professora colaboradora da Pós-Graduação em China Contemporânea da PUC-Minas e co-fundadora do projeto de difusão científica Fios de China no Instagram. Atualmente pesquisa instituições na China, com ênfase em governança digital e tecnologias em políticas públicas.

13 NOV – Aula 10. América Latina y la Economía de Datos – Carina Borrastero e Manuel Gonzalo

Professores: Carina Borrastero e Manuel Gonzalo. Moderação: Adriane Carrera

El objetivo de la sesión es presentar una revisión crítica de los debates contemporáneos vinculados a la economía de datos en América Latina. A partir de una sistematización de las contribuciones de la CEPAL, el Banco de Desarrollo de América Latina y el Caribe (CAF) y los planes y estrategias de política digital de Argentina, Chile y México, se identificarán y discutirán los avances, pendientes y hojas de ruta en materia de economía de datos en la región. Lo és evidente la necesidad de avanzar sobre una agenda regional en materia de datos que contemple las especificidades contextuales, emule buenas prácticas y regulaciones evitando la copia lineal y acrítica de abordajes del Norte Global, y apunte a potenciar actores, tecnologías e infraestructuras locales.

Carina Borrastero é Doutora em Ciências Sociais (UBA), Mestrado em Ciência, Tecnologia e Sociedade (UNQ) e Licenciada em Ciências da Comunicação (UNC). Professora de Economia Industrial na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Nacional de Córdoba (Argentina) e pesquisadora do CONICET (Argentina).

Manuel Gonzalo é Licenciado em Economia magna cum laude pela Universidad de Buenos Aires (UBA), Mestre en Economia y Desenvolvimento Industrial pela Universidad Nacional de General Sarmiento (UNGS) e Doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor-Investigador de Economia do Desenvolvimento na Universidad Nacional de Quilmes (UNQUI) e em Economia na UNDEC (Universidad Nacional de Chilecito). Coordenador do grupo de trabalho sobre Índia e membro do Grupo de trabalho sobre BRICS+ do Conselho Argentino para as Relaciones Internacionais (CARI). Investigador associado da RedeSist/IE-UFRJ.

MÓDULO 3: A experiência brasileira

27 NOV – Aula 11. Economia de Dados e as políticas governamentais brasileiras – Marcelo Mattos

Professor: Marcelo Mattos. Moderação: a definir

A conferência terá como foco o Nordeste brasileiro e apresentará os resultados da pesquisa realizada no âmbito do projeto “Medição da Economia de Dados: um Estudo de Caso sobre o Brasil”. A discussão se concentrará na capacidade instalada de ciência e tecnologia na região voltada à economia de dados. O debate partirá da indagação sobre a importância de uma primorosa rede de universidades e instituições de C&T no Nordeste, desde que estimuladas por uma política estratégica de investimentos no campo da ‘revolução digital’ e enraizada no território. Ainda, será apresentada uma agenda de pesquisa que visa ampliar a reflexão e o debate sobre o tema.

Marcelo Gerson Pessoa Matos é Economista. Doutor em Economia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor adjunto do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ) e do Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (PPED-IE/UFRJ). Pesquisador da RedeSist. 

04 DEZ – Aula 12. O Nordeste e a Economia de Dados – Severino José de Lima

Professor: Severino José de Lima. Moderação: Danilo Raimundo de Arruda.

Como foco o Nordeste brasileiro, a exposição se concentrará na capacidade instalada de ciência e tecnologia na região voltada à economia de dados. O debate partirá da indagação sobre a importância das universidades e instituições de C&T no Nordeste e seu potencial desde que estimuladas por uma política estratégica de investimentos no campo da ‘revolução digital’ e enraizada no território. Será apresentada uma agenda de pesquisa que visa ampliar a reflexão e o debate sobre o tema.

Severino José de Lima é Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal da Paraíba. Mestre em Sociologia Rural pela Universidade Federal da Paraíba e Doutor em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Professor da Universidade Federal de Campina Grande. Estágio Pós-Doutoral pela Redesist/IE/UFRJ. Pesquisador colaborador da Redesist. 

Danilo Raimundo de Arruda. Economista pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), com mestrado em Economia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e doutorado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor no Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias (CCHSA) da UFPB e pesquisador na Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist) do Instituto de Economia da UFRJ.

11 DEZ – Aula 13. Encerramento: Para uma política soberana – Sergio Amadeu da Silveira

Professor: Sergio Amadeu da Silveira (UFABC)

Apresentar o papel central que as tecnologias digitais adquiriram no cenário econômico e geopolítico atual. Mostrar as relações entre a questão da soberania nacional e as demais possibilidades de soberania, demonstrando as disputas pelo sentido e significação da soberania digital. Sugerir um conjunto de medidas de emergência para garantir a soberania digital do Estado e da sociedade.

Sergio Amadeu da Silveira é doutor em Ciência Política. Professor da UFABC e membro do Conselho Científico da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura (ABCiber). Integrou o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.Br). Presidiu o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação – ITI. É pesquisador de produtividade do CNPq.



Ementa completa – atualizada em 10/09/2025


Presencial:

Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ, Av. Rui Barbosa, 762 – Flamengo, Rio de Janeiro

Online:

Link Zoom Meeting – enviado aos inscritos

Transmissão:

PLAYLIST – Canal do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ no YouTube

*Inscrições abertas até 11/09.


PARCEIROS INSTITUCIONAIS

RedeSist – Rede de Pesquisa em Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais

ComMarx – Grupo Marxiano de Pesquisa em Informação, Comunicação e Cultura

PPGCOM – Programa de Pós Graduação em Comunicação e Cultura (ECO-UFRJ)

PPGCI – Programa de Pós Graduação em Ciência da Informação (PPGCI-IBICT)

Decifra-me ou te devoro, o feitiço na era das plataformas

A cena é mínima e precisa: uma câmera aberta, o professor em casa, falando direto ao público. Os alunos inscritos acompanham pela sala do Zoom; o restante, pelo YouTube do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ. Antes de mergulhar no tema, ele se apresenta: professor da Escola de Comunicação da UFRJ, pesquisador dos programas de pós-graduação e nome reconhecido no debate sobre comunicação e capitalismo. “Venho há muito tempo trabalhando com esses temas… e o papel da internet é absurdamente central para o funcionamento do capitalismo que conhecemos”, diz, em tom de quem sabe o terreno que pisa.

A Cátedra Álvaro Vieira Pinto — oferecida pelo Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ (CBAE) — abre com um módulo introdutório: “capitalismo do espetáculo, fetichismo da mercadoria e meios de comunicação”. O objetivo é dar a espinha dorsal teórico-metodológica do curso e apontar as trilhas seguintes; em 31 de maio de 2022, a voz condutora é a de Marcos Dantas.

Dantas começa por uma constatação cotidiana, quase confessionária: “A nossa vida é muito agendada pelo que a gente vê na TV, pelo que ouve no rádio, pelo que está no jornal e, agora, também pelo WhatsApp e pelo Facebook.” O termo de Guy Debord ganha corpo — espetáculo não é “apenas um conjunto de imagens, mas uma relação social mediatizada por imagens” que organiza hábitos, desejos, pausas e reprises do dia. Do barbeiro à sala de estar, “a gente para a atividade para ver uma novela… ou um jogo de futebol.”

Daí ao fetiche, o passo é curto. O professor chama Isleide Arruda Fontenelle para a conversa — e a frase que fisga o leitor: “Não basta tomar refrigerante, tem que ser Coca-Cola… não basta comer hambúrguer, tem que ser McDonald’s.” O nome — a marca — torna-se o objeto de desejo. “A marca parece perverter o próprio fetiche… uma espécie de fetichização do fetiche.” Em linha com Fontenelle, a marca radicaliza o processo: as pessoas deixam de se referir às coisas e passam a se referir às imagens das coisas. No limite, aquilo que antes era atribuído a forças divinas, hoje se chama “mercado” — onipresente e sem rosto.

A marcha do raciocínio encaixa Marx no presente. Se o capital se multiplica pela rotação, convém reduzir ao mínimo os intervalos entre produção, circulação e realização. “Quanto mais esse tempo tende a zero… tanto mais rápida a rotação do capital e maior a massa anual de mais-valor”, recorda Dantas. “Hoje vivemos em um tempo tendendo ao limite de zero — sobretudo nas etapas digitalizadas proporcionadas pela internet.” A informação, que antes acompanhava a mercadoria em seu percurso, agora se antecipa a ela — constrói desejos antes mesmo do produto existir. É esse encurtamento radical que redefine a economia: distâncias se dissolvem e decisões se precipitam em ritmo acelerado.

Para entender quem manda nesse jogo, Dantas aciona a ideia de corporações-rede: empresas cuja inteligência (P&D, marketing, design) pulsa em um núcleo e cuja produção se espalha em cadeias globais, enquanto a marca, por cima de tudo, organiza pertencimentos e preferências. O que se vende, repete ele, é o nome. O consumo, cada vez mais apoiado em signos e estilos de vida, transforma a diferença estética em valor.

É aí que a sociedade do espetáculo encontra sua engenharia econômica. O professor não foge da polêmica que vem da economia política da comunicação: o que a TV vende é audiência. “O que interessa ao anunciante é aquele milhão que está na frente da tela.” Há um trabalho semiótico do público — atenção, tempo, interpretação — que entra no circuito de valorização. Na tradição crítica, esse público é concebido como mercadoria; na prática do mercado, as métricas — como cliques e engajamento — funcionam como moeda. “Mesmo quem discorde da formulação, percebe o deslocamento: no mercado das telas, o olhar coletivo se converte em referência de valor e unidade de troca.”

O fio segue: quando a utilidade de muitos bens passa a ser estética — “gerar emoção, sentimento” — o espetáculo encurta ainda mais o giro: eventos e lançamentos têm vida útil instantânea, projetando a próxima onda enquanto a anterior ainda reverbera. A publicidade ensaia sua paráfrase da arte; o design assume o centro; e o capital, para acelerar consumo e reposição, aposta numa cultura do descartável, como lembram leituras que Dantas convoca no percurso.

No fundo, o diagnóstico mira a transformação do próprio material de trabalho: signos. “A mercadoria é também signo”, lê Dantas, para então recolocar o problema em 2022: em vez de apenas produzir objetos, produzimos projetos, marcas, experiências — informação que, ao ser registrada, processada e comunicada, compõe a base do que ele chama de capitalismo informacional.

Quando ele convoca “transportes e comunicações”, não há figura de linguagem: é chão e é símbolo. De um lado, navios, aviões e rodovias — indústrias cujo valor de uso é o próprio movimento e cuja “mercadoria” se consome no ato, durante o processo. De outro, data centers, telégrafo, rádio, TV e redes, que fazem a informação correr à frente da mercadoria, encurtando o tempo de rotação do capital. Por isso, não são adereços: em parte prolongam o processo produtivo (caso do transporte necessário à realização do valor) e, em parte, compõem funções de circulação que encurtam prazos e coordenam fluxos.

Daí à internet, o passo é lógico: “quanto mais esse tempo se aproxima de zero, tanto mais o capital se valoriza”, lembrou o professor — e a rede é a realização mais aguda desse limite. Hoje, os chamados “jardins murados” — ecossistemas fechados, aparentemente abertos, mas vigiados, regulados e que concentram dados, distribuição e mensuração sob regras próprias — comprimem a infraestrutura material e a mediação simbólica do desejo, como se anulasse o espaço pelo tempo: do anúncio ao clique, do clique à entrega, quase sem fricção.

Chegamos, enfim, às plataformas sociodigitais — não só digitais, insiste, porque “são produtos da sociedade e agem na sociedade”. No ambiente em rede, a compressão do tempo se torna regra operacional; o capital precisa de meios de comunicação para gestão, trânsito financeiro e produção de público. E é pela mesma via que o retorno chega, em forma de dados, cliques, indicadores e vendas.

A cena se fecha, de propósito, na sua televisão ou no seu celular: ao ver o gol brilhante, o olho vai ao lance — mas é a marca que captura o desejo, insinuada na vinheta e explícita nas placas que cercam o território.

No debate que se seguiu, as perguntas do público puxaram o fio para questões de hoje: a propriedade intelectual, cercada pelas plataformas; a vigilância, que busca predizer e modelar comportamentos antes mesmo que surjam; a democracia, atravessada por algoritmos que decidem o que circula. Dantas respondeu sem perder o compasso: “O capital precisa saber o que você vai desejar antes mesmo que você saiba.” O comentário, seco e preciso, funcionou como síntese da noite.

Essa aula — densa, segura, didática — inaugurou o curso “Capitalismo de Plataformas: Financeirização e Apropriação da Cultura, do Conhecimento e das Comunicações”, que se desdobra em diferentes campos e práticas sociais sob olhar crítico sobre como o capital financeiro e as tecnologias digitais reconfiguram produção e consumo.

No Aconteceu do CBAE, cabem as aulas que ressoam para além do instantâneo. Esta ressoa. Porque, na voz ora calma ora enérgica que sobe e desce ao explicar conceitos, Dantas reata dois pontos do nosso tempo: o feitiço (a mercadoria que encobre as relações) e a tela (o espetáculo que organiza a vida), sob a lógica das plataformas (onde ¹o capital realiza seu ideal antigo: fazer do tempo um quase nada). Não é metáfora: é método. E, como feitiço, também é alerta.

Texto: Wellington Gonçalves Revisão: Marcos Dantas

A crônica faz referência à aula Capitalismo do Espetáculo, Fetichismo da Mercadoria e Meios de Comunicação, parte do curso Capitalismo de Plataformas, ministrada em 31/05/2022 e transmitida pelo canal do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ no YouTube. Disponivel em: Transmissão YouTube – Aula Capitalismo do Espetáculo, Fetichismo da Mercadoria e Meios de Comunicação.

¹A formulação “o capital realiza seu ideal antigo: fazer do tempo um quase nada” condensa, em chave ensaística, a tese de Marx sobre a redução do tempo de circulação (cf. O Capital, Livro II). Trata-se de extrapolação crítica: Dantas observa que o tempo tende a zero nas etapas digitalizadas, mas não afirma literalmente a realização desse “ideal”.

UFRJ 105+: Trajetória, Agenda e Futuros Compartilhados

25 SET – QUI- 17H

Apresentação:

No marco dos 105 anos da UFRJ, o Programa de Cátedras do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ reafirma a força da universidade na produção de conhecimento crítico e plural. Cada Cátedra traz uma lente singular para compreender os desafios do presente e projetar horizontes para o futuro, cobrindo temas como política industrial e inovação tecnológica; história e patrimônio; desigualdades sociais e vitalidade democrática; juventudes, subjetividades e práticas culturais; educação e trabalho; e as interfaces entre ciência, saúde e sociedade. Ao integrar essas contribuições, as Cátedras sustentam a trajetória e a agenda do CBAE, ampliando o impacto social e intelectual da UFRJ e oferecendo testemunhos que articulam memória, experiência e a construção de futuros compartilhados para a universidade e para o país.

Participantes:

Adalberto Vieyra, Adriano Proença, Andrea Daher, Cláudia Mermelstein, Elisa Reis, Helena Theodoro, Lúcia Rabello de Castro, Manoel Costa, Priscila Machado Vieira Lima, Ronaldo Mota – Titulares de Cátedras do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ.


Coordenação:

Ana Célia Castro – Diretora Geral do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ

Presencial:

Espaço Castro, Lessa e Conceição do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ, Av. Rui Barbosa, 762 – Flamengo, Rio de Janeiro

Transmissão:

Canal do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ no YouTube

Workshop “Uma história das Metodologias e das Filologias da Oralidade: os casos Maya e Náaveri”

27 e 30 OUT – 16H

Apreentação:

Como parte do projeto levado a cabo no âmbito da Cátedra Paul Zumthor, “Uma história das Metodologias e das Filologias da Oralidade: os casos Maya e Náaveri” o evento é constituído de duas intervenções, na forma de um WORKSHOP, em que se propõe uma reflexão sobre os caminhos teóricos e práticos da pesquisa em oralidade, analisando como diferentes tradições intelectuais elaboraram métodos e filologias específicas para compreender e preservar vozes, narrativas e práticas verbais. A partir dos casos Maya e Náaveri, serão discutidas as tensões entre escrita e oralidade, memória e tradução, bem como os modos de legitimação do saber oral em contextos históricos distintos. O encontro busca articular perspectivas comparativas, oferecendo instrumentos críticos para o estudo contemporâneo da oralidade.

A filologia é o estudo dos textos em sua dimensão histórica, linguística e cultural. Busca compreender como foram escritos, transmitidos e preservados ao longo do tempo, analisando a evolução da língua, comparando versões e situando cada obra em seu contexto para revelar seu significado mais fiel e profundo.

Participantes:

Margarita Valdovinos (UNAM, México) e Andrea Daher (CBAE)

Parceiros: 

Programa de Pós-graduação em História Social da UFRJ

Presencial:

Espaço Castro, Lessa e Conceição do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ, Av. Rui Barbosa, 762 – Flamengo, Rio de Janeiro.

Diálogos com Benjamin Coriat, Comuns e Bem Comum no Antropoceno — Mercado, Clima e Poder

1 OUT – QUA – 10H30 E 3 OUT – SEX – 10H

Apresentação

Ao longo de dois dias de debates, o evento aprofunda a reflexão sobre as noções de bens comuns e bem comum, articulando as contribuições de Elinor Ostrom e Stefano Rodotà às urgências do Antropoceno e da crise climática. No primeiro dia, discutem-se as distinções conceituais e históricas entre communs e biens communs, sua evolução, tipologias e relevância como instrumentos coletivos diante das transformações socioambientais. Já o segundo dia promove um confronto entre a visão de mercado, representada por Jean Tirole, e as perspectivas centradas nos comuns, inspiradas em Ostrom e Rodotà, tendo como horizonte a construção de soluções para a governança climática e a afirmação do bem comum em escala global.

O encontro é realizado em parceria com a Academia do INPI e conta com a participação da antiga Linha de Propriedade Intelectual, Inovação e Desenvolvimento do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (PPED/UFRJ).

Bionote – Benjamin Coriat

Benjamin Coriat é economista e professor emérito da Université Paris XIII (Sorbonne Paris Nord), membro do Centre d’Économie Paris Nord (CEPN). Reconhecido internacionalmente por seus estudos sobre inovação, propriedade intelectual e economia dos bens comuns, foi um dos fundadores do grupo de pesquisa Les Économistes Atterrés. Autor de referência na reflexão sobre as transformações do capitalismo contemporâneo, destacou-se por integrar as contribuições de Elinor Ostrom e Stefano Rodotà na análise dos communs e biens communs, explorando sua relevância para a governança democrática, para a justiça social e para os desafios da transição ecológica. Entre suas obras mais conhecidas estão Le retour des communs (2015) e La pandémie, l’anthropocène et le bien commun (2021).


Debatedores:

Maria Tereza Leopardi – PPED/IE/UFRJ

Allan Rocha de Souza – Professor, Pesquisador, Advogado e Consultor Jurídico; Direito/ITR/UFRRJ – PPED/IE/UFRJ – INCT Proprietas

Presencial:

01/10 — Instituto de Economia da UFRJ – Campus Praia Vermelha, sala 102, Palácio Universitário da UFRJ – Av. Pasteur, 250 – Botafogo

03/10 — Espaço Castro, Lessa e Conceição do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ, Av. Rui Barbosa, 762 – Flamengo, Rio de Janeiro

Transmissão:

Canal do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ no YouTube

A nação como imagem recriada

Foi preciso alguns segundos até que a voz atravessasse o silêncio. O som falhou na transmissão híbrida — auditório do CBAE e tela do YouTube se entreolhando — como se o próprio tema resistisse a ser ouvido. Falar de nação é sempre um ajuste de frequência: encontrar o tom que permita ouvir e ser ouvido.

Quando o áudio voltou, a conferência convidada do curso Imagens dos Mundos Reais e Imaginários, oferecido no âmbito da Cátedra Fernando de Souza Barros sob a coordenação de Adalberto Vieyra, ganhou corpo. Foi ele quem apresentou a convidada da noite, a socióloga Elisa Reis, que retomou a pergunta de Ernest Renan: o que é, afinal, uma nação? E lembrou sua resposta imortal, dada em 1882: “a nação é um plebiscito de todos os dias.”

Era 8 de setembro de 2022, logo após o bicentenário da Independência. Três anos depois, ao ouvir as palavras novamente, percebe-se que o gesto não era apenas de celebração. Era convite à reflexão sobre uma independência que ainda não se cumpriu. “Estados nacionais não são produtos acabados e imutáveis”, afirmou Elisa. E explicou que a fusão entre pertencimento e autoridade nunca nasce pronta nem se torna definitiva: preserva e transforma, enfrentando os limites, e valendo-se de oportunidades emergentes para assim mobilizar condições favoráveis e fazendo valer valores e escolhas individuais e coletivas. Em outras palavras, a nação é sempre um campo em disputa, uma fotografia em revelação.

Na sua leitura, o Brasil nasceu com o Estado antes da cidadania. A independência foi proclamada sem ruptura, herdeira da ordem colonial. Já no século XX, o estatuto de cidadania ganha expressão máxima na carteira de trabalho, símbolo da inclusão no mercado de trabalho: um passaporte social regulado pelo Estado, que abria direitos apenas para os que tinham um emprego formal. Uma cidadania seletiva, que ao definir dessa forma a inclusão logicamente excluía os demais.

E a memória, lembrou, é sempre uma edição. “É claro que os indígenas são parte da nossa nação, mas nós fomos socializados de forma a não pensar neles como nossos co-cidadãos, a pensar-los  como uma categoria à margem da história.” O mesmo ocorre com os quilombolas, cuja rebeldia histórica foi eclipsada pelo gesto paternal da princesa Isabel. A nação que contamos não é mentira: é uma edição renovada. Um enquadramento que desfoca uns e ilumina outros.

Também os slogans tentaram reduzir o Brasil a uma única moldura: “Ame-o ou deixe-o.” “Brasil acima de tudo.” Fórmulas que prometem unidade, mas na verdade expulsam. Elisa foi enfática: “Um discurso nacionalista que propõe parcialidade é uma contradição em termos.”

Nesse ponto, a ciência entrou em cena. Não como torre de marfim, mas como prática pública. “A ciência que nós produzimos custa algo aos cofres públicos. E nós temos o dever, a obrigação moral de retribuir”, afirmou. Retribuir como? “Mostrando que conhecimento só baseado na vontade não avança, que o futuro depende de compatibilizar vontade, análise objetiva dos limites e oportunidades, e confiança.”

Ciência, portanto, como serviço público de clareza — não acima das pessoas, mas com elas.

Ao final, a imagem da nação se delineava como obra aberta. Memória e esquecimento, autoridade e pertencimento, projeto e oportunidade. Uma nação que precisa ser refeita a cada geração. É nesse sentido que Renan ressoa, mais atual do que nunca: a nação é plebiscito cotidiano.

A conferência terminou, o auditório se dispersou, a transmissão online foi desligada. Mas ficou no ar um compromisso: recriar a imagem da nação com mais luz e menos desfoque, ajustando o contraste à altura da nossa complexidade. Se a independência é mito, cabe desmontá-lo. Se é prática, cabe exercê-la.

Hoje, 7 de setembro de 2025, votamos de novo. E amanhã também.
É assim que um país aprende a dizer seu nome em voz clara. E a se ouvir.

Texto: Wellington Gonçalves — revisão: Elisa Reis.

A crônica faz referência à conferência A Nação como Imagem Recriada, apresentada em uma das sessões do curso Imagens dos Mundos Reais e Imaginários: dos Átomos às Catedrais Passando pela Mente, realizado no âmbito da Cátedra Fernando de Souza Barros, sob a coordenação de Adalberto Vieyra, com a colaboração de Cláudia Melmerstein e Manoel Luis Costa, em 08/09/2022, e transmitido pelo canal do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ no YouTube. Disponível em: Transmissão YouTube – Conferência A Nação como Imagem Recriada

Conhecimento, Interculturalidade e Sujeitos na Articulação Universidade e Escola Básica: o Futuro da Formação Docente

10 SET – QUA – 17H30/19H30

Cátedra Anísio Teixeira de Formação de Professores

Conferência Conhecimento, Interculturalidade e Sujeitos na Articulação Universidade e Escola Básica: o Futuro da Formação Docente

O encontro é um convite ao diálogo e à construção coletiva de reflexões que apontem para a formação docente situada, plural e comprometida com a diversidade, a equidade e a transformação social.

Conferêncista:

Professora Dra Ana Maria Ferreira da Costa Monteiro, Professora titular emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Presencial:

Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ, Av. Rui Barbosa, 762 – Flamengo, Rio de Janeiro.

Transmissão:

Canal do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ no YouTube

Hertha Meyer sou eu quando a memória resiste

Naquela segunda-feira, às cinco da tarde, o canal do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ no YouTube se fez sala escura. A tela acendeu com quatro palavras que soaram como batida na porta da memória: Hertha Meyer sou eu. Mulher, judia, alemã — sua biografia começa na Europa dos anos 30, atravessa a Itália e desemboca no Rio de Janeiro, quando a antiga Universidade do Brasil, hoje UFRJ, erguia espaço para a ciência pública. Foi ali que Hertha encontrou abrigo e transformou a universidade em sua trincheira.

Wanderley de Souza, discípulo e herdeiro acadêmico, não conteve a emoção: “Dona Hertha soube o que é medo. Medo da morte iminente.” A lembrança não fecha um passado; abre três tempos. O dela, nos anos 30, quando o nazismo transformou futuro em fuga. O de 2021, quando a ciência brasileira sangrava sob cortes. O nosso, em 2025, quando recordamos que a memória continua sendo campo de batalha.

No Instituto de Biofísica da UFRJ, Hertha transformou exílio em método. Foi pioneira no cultivo celular e ajudou a desvendar o ciclo do Trypanosoma cruzi — parasita causador da doença de Chagas — a doença do barbeiro. Em termos simples: dentro de uma célula, multiplica-se até romper o tecido e seguir infectando. Seu trabalho repercutiu no mundo todo, embora ela mesma repetisse, com humildade: “Não me chame de doutora, não fiz doutorado.” Tornou-se referência sem precisar de títulos honoríficos.

O filme, porém, não deixa que a cientista esconda a mulher. Débora Foguel, tomada pela emoção, lembrou que Hertha, sem filhos, pedia notícias diárias das crianças dos colegas: “Era nisso que se alegrava.” Tratava Wanderley como filho acadêmico; com Débora, exercia o afeto de uma avó improvisada. Outras cenas completam esse retrato: a bengala nas escadas do Instituto, as férias nos Alpes suíços, o “Nunca mais Alemanha” dito como cicatriz, os chocolates discretamente partilhados.

O debate apenas afinou o que a tela já declarava: memória é disputa. Erika Negreiros disse sem rodeios: “As grandes narrativas históricas nos silenciaram… falar da memória feminina é costurar pedacinhos de histórias fragmentadas.” Recuperar Hertha é enfrentar o peso das estruturas patriarcais que empurraram tantas mulheres ao rodapé da história.

A produção ainda recorda a circulação internacional — como a passagem de Rita Levi-Montalcini pelo Rio, futura Nobel que compartilhou bancada com Hertha. São fios que confirmam: ela pertence a uma história global da ciência, também escrita nos corredores da universidade pública brasileira.

Na altura dos 25 minutos, a pesquisadora Carolina Alves crava a síntese: “Falar da história das mulheres na ciência é disputar narrativas, lutar contra o silenciamento e o apagamento.” A frase atravessa o tempo: em 2021, quando a democracia era contestada por autoritarismos; e em 2025, quando a universidade pública deve permanecer em alerta. É preciso estar atenta e forte, mesmo em novos contextos, para nunca mais esquecer.

O título deixa de ser título e vira espelho: “Hertha Meyer sou eu.” É a cientista exilada; é a professora que acorda cedo; é a estudante de primeira geração universitária; é quem insiste em fazer ciência com brilho nos olhos. Em 2021, o média foi laureado no VII Festival Arquivo em Cartaz – Arquivo Nacional; mas talvez o prêmio maior seja outro: romper o silêncio imposto e devolver às mulheres o lugar que lhes foi negado. Nada está dado: é memória e resistência.

E para deixar-se atravessar pela história, não basta ler aqui. O filme Hertha Meyer sou eu está disponível ao final desta matéria — onde imagens, vozes e silêncios dizem o que esta crônica não tem condições de imprimir.

Texto: Wellington Gonçalves — revisão: Marilia Zaluar Guimarães

A crônica faz referência ao lançamento e debate “Hertha Meyer sou eu”, no âmbito da Cátedra Hertha Meyer de Fronteiras das Biociências, sob a coordenação dos titulares Marilia Zaluar Guimarães e Stevens Rehen, em 26/07/2021, transmitido pelo canal do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ no YouTube. Disponível em: Lançamento e debate “Hertha Meyer sou eu”

HERTHA MEYER SOU EU – Direção: Marília Zaluar Guimarães. Brasil, edição e produção artística da ArtBio, 2021. 28m 35s

Seminário Internacional – Saberes Ancentrales: Re-existiendo en la Era de la IA

10 e 11 – SET – 9H

Dia 10/09: das 9h às 13h – Híbrido
Dia 11/09: das 9h às 17h – Online

Em uma era dominada pela ascensão da Inteligência Artificial, como podemos garantir que a tecnologia sirva à essência humana sem apagar a diversidade de saberes do mundo? O Seminário Internacional “Saberes Ancentrales: Re-existiendo en la Era de la IA” nasce para tecer pontes entre mundos aparentemente distantes. O evento propõe um diálogo inédito entre os princípios de relacionalidade e equilíbrio das cosmovisões Andina e Awajún e a lógica da ciência ocidental que fundamenta a IA. Mais do que um debate sobre tecnologia, este é um convite para co-desenhar futuros possíveis, explorando como a resiliência e a sabedoria ancestral podem nos inspirar a desenvolver e aplicar a IA de forma ética, intercultural e a serviço do Bem Viver. Junte-se a nós para semear caminhos de re-existência.

Realização: Laboratório de Estudo das Ciências (LEC) , Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE) , UFRJ e CNPq.

Programação:

Faça o download da programação completa

Presencial:

Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ, Av. Rui Barbosa, 762 – Flamengo, Rio de Janeiro.

Transmissão:

Canal do Laboratório de Estudo das Ciências da UFRJ no YouTube